Três dias. É o que falta. Daqui a três dias, fecha o período de transferências da NHL. O dia e tudo o que lhe antecede é um dos pontos mais esperados pelos fãs de hóquei no gelo, uma mistura perfeita de intriga e especulação que termina numa maratona de quase 24 horas. Há quem tire um dia de férias para ficar refastelado no sofá a ver o trade deadline.
Mas, para os general managers, o trade deadline não é entretenimento. É uma das alturas mais stressantes da temporada. É a última vez em que eles podem ter qualquer influência no futuro imediato da equipa. É a altura de avaliar o plantel, separar o trigo do joio e decidir qual é o caminho a tomar daqui para a frente. O dilema pode-se resumir a uma pergunta: a equipa está na luta pelos playoffs ou não? Ou, em alguns casos: a equipa está de fora dos playoffs, mas suficientemente perto para puder fingir que está na luta?
Por esta altura, 6 equipas estão a menos de 6 pontos de um lugar de apuramento para os playoffs. Apenas 5 estão a mais de 10. No ano passado, os Ottawa Senators estavam a 14 pontos dos playoffs em Fevereiro e apuraram-se. Só os Toronto Maple Leafs e os Edmonton Oilers estão a essa distância este ano. Todas as outras equipas ainda têm direito a ter esperança. Essa esperança é uma grande mentira, pois claro. Quase todas estas equipas que estão na bolha não vão conseguir o apuramento e muitas delas nem sequer vão andar perto. Pelo simples motivo de serem más, na medida em que perdem mais jogos do que ganham e que sofrem mais golos do que aqueles que marcam. O melhor que têm a fazer é desistir e olhar para o futuro. Muitas delas não o vão fazer, pois claro. Isto deve-se a uma esperança infundada, ao boost financeiro de chegar aos playoffs ou ao simples instinto de sobrevivência. Como GM, admitir depois de 60 jogos que a tua equipa não tem o que é preciso para ganhar é uma boa maneira de acabar no fundo de desemprego. Até pode ser melhor para o futuro começar a trocar os jogadores mais velhos por prospects ou picks, mas isso não é assim tão fácil quando estão empregos em jogo. Agora somem a isso a pressão dos fãs, dos media, do dono que pode estar a contar com as receitas dos playoffs para ter lucro. Não é fácil.
Uma das equipas já tomou a sua decisão. Os Ottawa Senators fizeram all in há duas semanas ao adquirirem Dion Phaneuf aos Toronto Maple Leafs. Apesar de estarem a 4 pontos do wild card e de terem 4 equipas para ultrapassar, os Senators decidiram que estão na luta. Outras equipas terão que se decidir rapidamente. Os Philadelphia Flyers estão a 3 pontos, numa situação muito semelhante à que estavam no ano passado, quando Ron Hextall decidiu não fazer nada no trade deadline. Fará o mesmo desta vez? Calgary Flames e Vancouver Canucks defrontaram-se na primeira ronda o ano passado. Este ano, a Conferência Oeste não tem lugar para os dois. Talvez para nenhum deles. Os Flames estão a 12 pontos e com tendência de queda. Os Canucks estão a 8, mas conseguiram perder contra os Leafs há duas semanas. Mais duas equipas que deviam pensar no futuro. Em Montreal, os Canadiens passam por uma das piores fases da sua história e enfrentam agora a possibilidade de ficarem sem Carey Price para o resto da temporada. É claro que a equipa não o admite, mas as imagens que vieram a publico de Price a (tentar) patinar são tudo menos animadoras. Os adeptos já desistiram e pensam mais em Auston Matthews do que nos playoffs. Será que Marc Bergevin irá fazer o mesmo?
Podíamos continuar por aí a fora. Ir aos Predators, aos Avalanche, aos Devils, aos Hurricanes. Talvez o caso mais enigmático seja o dos Minesotta Wild, que despediram Mike Yeo depois de 13 derrotas em 14 jogos. Os Wild não estão longe (4 pontos), mas mesmo que quisessem começar de novo seria impossível, dado os contratos pesados que têm no plantel. Quando se aposta para ganhar e não se ganha, quase que se é obrigado a fazer all in, por muito baixas que sejam as probabilidades de sucesso. Todas estas equipas têm decisões importantes a tomar e já só têm uns poucos dias para pensar.
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LA Times |
E QUE TAL ESTES DUCKS?
No dia 23 de Dezembro, o último jogo disputado pelos Anaheim Ducks antes da pausa de natal, um golo de Matt Zuccarello no prolongamento deu aos Rangers uma vitória por 3-2. Era a segunda consecutiva dos Ducks e a quarta nos últimos cinco jogos, deixando-os com um registo de 12-15-6 na temporada. Na altura, seguravam o último lugar da Conferência Oeste e apenas os Columbus Blue Jackets tinham menos pontos na NHL. O primeiro lugar da Divisão Pacífico, ocupado pelos Los Angeles Kings, estava a 12 pontos de distância. Para uma equipa que estava entre os favoritos a chegar à final da Stanley Cup no início da época, esta situação era um absoluto desastre.
Numa história normal, era por esta altura que faria referência à aparente impossibilidade de uma recuperação, mas isso nunca aconteceu com os Ducks. As coisas estiveram negras, principalmente para Bruce Boudreau que viu o seu lugar em perigo, mas o sentimento geral era de que os Ducks iam dar a volta à situação a qualquer momento. Era só uma fase. Havia demasiado talento naquele plantel para a situação continuar assim. Mais cedo ou mais tarde, eles tinham que dar a volta por cima. E se deram!
Menos de dois meses depois, os Ducks estão na 2ª posição na Divisão Pacífico, quatro pontos atrás dos lideres Los Angeles Kings. Desde o tal jogo contra os Rangers, os Ducks têm um registo de 20-4-2. A vitória de quinta-feira de madrugada por 1-0 contra os Buffalo Sabres foi a sua sexta consecutiva. Todos gostamos de uma história de redenção, daquelas que têm um determinado acontecimento que pode ser apontado como o ponto de viragem, qualquer coisa que tenha mudado tudo de um dia para o outro. Não com estes Ducks. Os Ducks recuperaram os pontos perdidos no início da temporada uma vitória de cada vez e foram subindo lentamente na classificação da Divisão Pacífico. A equipa de Bruce Boudreau tem jogado bem todo o ano, mas só agora estão a ter os resultados esperados. Antes do Natal, os Ducks marcavam golo em 5.2% dos seus remates à baliza, o pior registo da liga. Agora têm uma percentagem de eficácia de 7.9% (10º na NHL). Só isto faz toda a diferença. Os números de posse são fortíssimos (e sempre foram muito bons). Os Ducks têm 55.5% de Corsi, o 2º melhor registo na NHL, apenas atrás dos Los Angeles Kings (57%). Não foi preciso um milagre. Bastou que uma já por si excelente equipa começasse a gozar de alguma sorte frente à baliza.
O RENASCIMENTO DOS WILD
Há duas semanas atrás, os Minnesota Wild pareciam ter perdido toda e qualquer esperança num apuramento para os playoffs. Estavam a 4 pontos dos wild cards e a cair a pique, com 13 derrotas nos anteriores 14 jogos. Eram uma equipa montada para ganhar já, mas que parecia acabada e sem margem de progressão. Duas semanas depois, os Wild são uma das equipas em melhor forma na NHL. Ganharam 4 dos seus últimos 6 jogos por um resultado combinado de 24-15 e estão aos mesmos 4 pontos de distância do segundo wild card, mas com dois jogos ainda por disputar em relação aos Colorado Avalanche. No primeiro jogo ao ar livre da sua história, os Minnesota Wild golearam os Chicago Blackhawks por 6-1 no TCF Bank Stadium.
Ao contrário da situação dos Ducks, é fácil apontar o momento de viragem na época dos Wild. Há duas semanas despediram o treinador Mike Yeo, colocaram John Torchetti no seu lugar e nunca mais foram os mesmos. Claro que 3 destas 4 vitórias foram contra as equipas canadianas da Divisão Pacífico, o que quase não devia contar, mas a goleada aos Blackhawks no primeiro Stadium Series do ano foi impressionante. Já no ano passado os Wild tinham dado uma volta de 180º à sua temporada com a troca de Devan Dubnyk. Parece que encontraram uma forma diferente de o fazer este ano.
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yahoo.com |
UPDATE
– O próximo Stadium Series é já este fim-de-semana. Amanhã, no Coors Field, Colorado Avalanche e Detroit Red Wings reeditam a rivalidade que definiu a NHL nos anos 90.
– Shayne Gostisbehere (Philadelphia Flyers) estabeleceu o novo recorde de jogos consecutivos a pontuar por um defesa na sua época de estreia. A série parou nos 15 jogos na derrota de terça-feira contra os Carolina Hurricanes.
– A imprensa de Nova Iorque noticiou que os New York Islanders já pensam em sair do Barclays Center.
– Um jogo entre duas equipas fora dos lugares de apuramento para os playoffs não tem muito que se lhe diga nesta altura do campeonato. Mas o que aconteceu na passada sexta-feira, na vitória por 3-2 dos Philadelphia Flyers sobre os Montreal Canadiens, foi bem diferente. Michel Therrien não se coibiu de culpar P.K. Subban, porventura o melhor jogador da sua equipa, pela derrota. Um novo baixo para a época dos Habs.
– Jaromir Jagr (Florida Panthers) marcou o 742º golo da sua carreira e ultrapassou Brett Hull na lista de melhores marcadores da história da NHL. É agora 3º nessa lista, apenas com Gordie Howe e Wayne Gretzky pela frente.
– Andrew Ladd regressou aos Chicago Blackhawks, em troca de uma 1ª ronda no draft e o prospect Mark Dano. Os Hawks ainda receberam Matt Fraser e Jay Harrison. Os Jets retiveram parte do salário de Ladd.
– Olli Maatta renovou contrato com os Pittsburgh Penguins por mais 6 anos, num valor anual de $4.083 milhões de dólares.