FC Porto pouco ousado cai perante um Borussia pragmático; Peseiro foi hoje mais conservador e a equipa ressentiu-se; Pressão alta e superioridade numérica, a chave do jogo alemão; Aubameyang, a meias com Casillas, sentenciou a eliminatória; Danilo foi um gigante no terreno de jogo.
Na recepção aos alemães do Dortmund e a precisar de vencer por, pelo menos, três golos de diferença para sonhar com a continuidade na Liga Europa, José Peseiro decidiu surpreender novamente na escolha do onze inicial. Desde logo, pela colocação de Layún no eixo da defesa, à semelhança do que já tinha acontecido na 1ª mão (com José Ángel a assumir a lateral esquerda). Depois, pela inclusão de Evandro, Marega e Varela na formação inicial. Jogadores como André André, Herrera, Brahimi ou Corona eram assim relegados para o banco de suplentes. A opção, puramente pessoal, pode ter tido explicação no facto de Varela e Marega serem jogadores mais objectivos em termos ofensivos e mais solidários defensivamente do que os seus companheiros de sector. Desta forma, o FC Porto precaver-se-ia dos contra-ataques rápidos da equipa de Tuchel. Neves, Danilo e Evandro assegurariam outra qualidade na posse. Do lado germânico, Ginter e Bender foram as surpresas no onze inicial.
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O FC Porto teve um início muito complicado. O Borussia pressionava alto e complicava a vida na saída de bola aos jogadores portistas, muitas vezes obrigados a jogar longo à procura do solitário Aboubakar. A pressão alta eficaz e a superioridade numérica dos alemães era evidente no meio-campo e o FC Porto sofria com isso. Danilo lá ia apagando os vários "fogos" existentes no terreno de jogo, mas sozinho era difícil fazer mais. Evandro encontrava-se completamente engolido pela pressão amarela e a equipa de Tuchel fazia o que queria com a bola em sua posse. Com o tempo a correr a seu favor e o adversário perdido tacticamente no campo, o Dortmund limitava-se a gerir o ritmo e a controlar os tímidos ataques dos dragões. Com tanta cerimónia por parte da equipa de Peseiro, a turma germânica aproveitou para se adiantar no marcador. Aos 23', o Borussia Dortmund aproveitou o fosso existente entre o meio-campo e a defesa portista para lançar um ataque rápido. Mkhitaryan lançou Reus, completamente sozinho na área, que rematou forte para grande defesa de Casillas. Na recarga, surgiu Aubameyang que, sem qualquer oposição, acabou por colocar a bola dentro da baliza (ainda que com infelicidade de Casillas, que ajudou a que a bola entrasse). As repetições televisivas mostraram que o avançado gabonês estava em fora-de-jogo, mas nada havia a fazer. O Borussia continuou a controlar o ritmo do jogo a seu belo prazer e o FC Porto só a espaços e, em especial, nas bolas paradas, ia chegando à baliza de Bürki. Só aos 40' surgiu o primeiro lance de real perigo portista. Evandro ganhou a bola à entrada da área, passou por dois defesas alemães e rematou pouco ao lado da baliza. Dois minutos depois, Layún cobrou novo pontapé de canto e Varela, de cabeça, obrigou Bürki a uma grande defesa. As jogadas de perigo animaram as hostes do Dragão, mas faltou o tão esperado golo.
A 2ª parte começou com um FC Porto semelhante na abordagem ao jogo. Ainda assim, Aboubakar esteve perto do golo, mas o toque de calcanhar saiu à figura de Bürki. Com o passar dos minutos, Peseiro viu que a equipa não crescia no jogo e lançou Suk para o lugar do camaronês. A entrada do coreano, sempre muito activo e pressionante, estimulou os companheiros e a equipa melhorou. Mas durou pouco o efeito estimulante que a entrada de Suk teve. Rapidamente o Dortmund voltou a ganhar a posse da bola e a controlar o jogo a seu belo prazer. Peseiro lançou Brahimi e, mais tarde, Herrera, mas a situação não tinha melhorias à vista. Só aos 74', Suk conseguiu assustar novamente, numa jogada de insistência em que, sem ângulo, acaba por atirar contra Bürki. Já cientes da derrota, os jogadores portistas não se aventuraram muito e o Dortmund adormecia a partida. Houve, ainda assim, tempo para mais duas jogadas de destaque. Uma bola à trave de Brahimi e, já perto do final, foi Mkhitaryan a atirar ao poste. O resultado, apesar de não totalmente justo para aquilo que a equipa portista foi produzindo, acaba por castigar o pouco atrevimento de José Peseiro e as debilidades apresentadas ao nível de pressão e saída de bola. O FC Porto cai assim na Liga Europa e o Borussia segue em frente, com justiça.
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Casillas: Infeliz no golo, que a UEFA acabou por lhe atribuir, mesmo após ter feito uma defesa monumental. Fez tudo o que estava ao seu alcance, tendo ainda realizado algumas defesas a negar outros números à equipa de Tuchel.
Maxi: Fez, muito provavelmente, uma das piores exibições ao serviço dos dragões. Deixou Reus sozinho no lance do golo, foi ultrapassado em várias outras situações e perdeu várias bolas. Pareceu muito cansado.
Layún: Foi central e lateral, cobrou as bolas paradas e esteve nalgumas das situações de maior perigo dos dragões. A equipa ressentiu-se da sua assertividade pela ala esquerda. Defensivamente esteve em óptimo plano.
Marcano: Não reagiu a tempo no golo do Dortmund, onde Aubameyang até estava em posição irregular. De resto, teve uma actuação praticamente imaculada, com vários roubos de bola e a lançar o ataque com qualidade.
José Ángel: Mau demais. O espanhol está longe de ser jogador para o FC Porto. Raramente apareceu no ataque, foi ultrapassado várias vezes e vacilou muito com a presença de Mkhitaryan à sua frente. Falhou vários passes e demonstrou muita insegurança.
Rúben Neves: O capitão dos dragões esta noite esteve bem no capítulo do passe, mas teve dificuldades em acompanhar o ritmo do meio-campo alemão, muito por força da inferioridade numérica dos dragões naquela zona. Fez o que podia.
Danilo: Exibição monstruosa. Provavelmente o único portista que merecia sair do Dragão com o apuramento para os "oitavos". Encheu o campo, em especial na 1ª parte, com roubos de bola no meio, à direita e à esquerda, fazendo as vezes dos companheiros de sector nessas tarefas. Mas nem por isso se coibiu de aparecer no ataque, fosse a passar, rematar ou transportar a bola. A 15 minutos do fim acompanhou Aubameyang (um dos jogadores mais rápidos do planeta) em corrida e roubou-lhe a bola, num lance muito aplaudido pelos adeptos azuis e brancos.
Evandro: De relevante, apenas uma jogada individual, ainda na 1ª parte, que quase deu golo. De resto, esteve desaparecido e mal na pressão, abrindo espaços nas costas para os médios alemães actuarem. Aposta falhada de Peseiro.
Marega: Muitas dificuldades na recepção de bola e em parar as incursões ofensivas de Schmelzer. Lutou muito, mas não produziu nada de relevante.
Varela: Deu boas ajudas defensivas a Ángel, beneficiando no maior sentido posicional de Ginter. No ataque não conseguiu desequilibrar.
Aboubakar: Uma única oportunidade de golo, num jogo ingrato onde passou boa parte do tempo a ver a bola passar-lhe à frente, entre os pés dos centrais alemães.
Suk: Agitou o ataque e animou o Dragão. Ainda tentou o golo, mas hoje não foi feliz. Fez mais do que Aboubakar com muito menos tempo de jogo.
Brahimi: Pouco acrescentou, tirando um remate à barra.
Herrera: Apareceu pouco, numa altura em que a equipa já baixava os braços.
José Peseiro: Ao contrário do que é habitual, decidiu não arriscar, mesmo estando em desvantagem na eliminatória por dois golos. Deixou alguns dos jogadores mais criativos do FC Porto no banco e acabou por amarrar a equipa a um esquema que em nada beneficiava a produção ofensiva. A inferioridade numérica, em especial no meio-campo, bem como o bloco médio-baixo apresentado acabaram por facilitar a vida aos alemães do Dortmund. A substituição de Aboubakar por Suk teve um efeito galvanizador, mas de pouca dura.
Borussia Dortmund: A pressão alta e a superioridade numérica nos vários momentos do encontro é a maior arma deste Borussia Dortmund. Com uma posse tranquila e lenta, os alemães aproveitavam para atrair os jogadores portistas e depois utilizar a criatividade e velocidade dos homens do ataque para causar danos no adversário. Mkhitaryan e Aubameyang foram perigos constantes, mesmo apesar da maior apatia de Reus e Kagawa. Defensivamente a equipa esteve em bom plano e não concedeu muitos espaços, exceptuando nos contra-ataques dos dragões. Ainda assim, o Borussia passou impune pelo Dragão e vai com toda a justiça jogar os oitavos-de-final.
Homem do jogo para o PD: Danilo (FC Porto)
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Lusa |