António Ramalhete é considerado em Portugal e pelo mundo do Hóquei, o melhor guarda-redes de todos os tempos. Tendo representado o Benfica e o Sporting é um caso raro de reconhecimento em ambos os lados. Foi também figura central na seleção nacional e um dos hoquistas mais titulados do planeta. António Ramalhete faz agora uma retrospectiva e analisa o momento atual do Hóquei, numa entrevista exclusiva ao Planeta Desportivo.
Leia na integra a entrevista exclusiva com António Ramalhete.
PD: O António Ramalhete é considerado
unanimemente como o melhor guarda-redes de todos os tempos, embora nunca o
tenha admitido. Hoje em dia, quando olha para trás, já o reconhece?
AR: «Não, antes pelo contrário cada vez tenho mais
dificuldade. Até porque é muito difícil fazer comparações, já que os
guarda-redes atuais têm uma forma completamente diferente de defender. No entanto, creio
que com os métodos que existem hoje, mais tarde, ou mais cedo, aparecerá um
guarda-redes que será considerado o melhor de todos os tempos.»
PD: Geralmente as grandes figuras do
desporto nunca são guarda-redes, contudo o Ramalhete chegou ao estrelato entre
os postes. De onde surgiu o desejo de ser guarda-redes?
AR: «O desejo de ser guarda-redes surgiu de uma forma
muito natural, já que em miúdo tinha muito jeito para ser guarda-redes de
futebol. E quando experimentava qualquer modalidade era sempre na baliza e o
hóquei não fugiu à regra. Em boa hora isso aconteceu!»
PD: É dos hoquistas mais titulados em
todo o Mundo. Foram 13 Campeonatos Nacionais, 2 Campeonatos do Mundo, 5 da
Europa, entre tantos outros. Qual foi para si, o momento mais alto dessa enorme
carreira?
AR: «Houve dois momentos muito importantes na minha
carreira: quando pela 1ª vez fui Campeão do Mundo e quando fui Campeão Europeu
ao serviço do Sporting. Mas aquilo que realmente me dava mais satisfação, era
quando no encontro fazia determinada defesa e o público se levantava todo para
aplaudir.»
![]() |
António Ramalhete @Facebook |
PD: Representou os 2 grandes de Lisboa,
trocando o Benfica pelo Sporting por 2 vezes. Continua, no entanto, a ser
aclamado dos 2 lados da Segunda Circular. Acha que isso seria possível hoje em
dia?
AR: «Penso
que seria difícil hoje em dia isso acontecer. No entanto, creio que o ser
respeitado e ser considerado nos dois clubes, se deveu ao fato de representar a
seleção nacional durante 17 anos ininterruptos, o que levou a que as pessoas me
respeitassem mais por essa razão.»
PD: Apesar
de formado no Benfica, foi no Sporting que alinhou na “Equipa Maravilha”. O que
nos pode dizer sobre essa equipa que venceu tudo?
AR: «Aquilo
que posso dizer sobre essa equipa “maravilha” é que era composta por jogadores
foras de série, que gostavam da modalidade e que o lema deles era "Vencer". No
entanto, não me posso esquecer da equipa do Benfica que era formada: por mim,
Casimiro, Garrancho, Livramento e Jorge Vicente. Equipa que me marcou também
muito na minha carreira desportiva.»
PD: Representou ainda a equipa das quinas
por 220 vezes. O que falta a esta seleção para conquistar os títulos que têm fugido
nos últimos anos?
AR: «Não
lhe falta nada. O que tem acontecido nos últimos anos é que a seleção espanhola
tem tido ao seu serviço jogadores extraordinários, com grande experiência e que
demonstraram sempre alguma superioridade sobre as nossas seleções. No entanto,
este ciclo está a mudar.»
PD: Como
analisa o Hóquei atualmente? A nível do impacto no público, da qualidade do
hóquei praticado e até das rivalidades entre os principais emblemas
portugueses.
AR: «A
nível do impacto do público continua a merecer os seu favores. A qualidade
existe apesar de as nossas equipas principais começarem a dar prioridade aos
jogadores estrangeiros, claro que isto tem a ver com a grande rivalidade entre
as três melhores equipas portuguesas. Em termos de futuro não sei se irá
prejudicar ou não o hóquei nacional.»
![]() |
António Ramalhete @Facebook |
PD: O que falta ao Hóquei para ser aquela
modalidade que enchia os pavilhões e rivalizava com o Futebol?
AR: «Eu penso que não falta nada ao hóquei, nem ao
basquetebol, nem ao andebol. O nosso problema é que somos um país de futebol, onde
a comunicação social é a principal responsável, porque protege o poder económico
que gira à volta do futebol. E o mais engraçado é que não conheço ninguém que
veja seriedade em tudo o que rodeia o futebol.»
PD: A inclusão da modalidade nos Jogos
Olímpicos, seria um passo importante?
AR: «É natural que melhorasse com a entrada nos JO,
mas temos outras modalidades olímpicas e não vejo que tenham mais protagonismo
que o hóquei a nível nacional.»
PD: Para terminar, quem é para si o
melhor guarda-redes da atualidade?
AR: «A nível nacional não tenho duvidas que é o
Ângelo Girão. A nível Internacional, pelo pouco que tenho visto, o guarda-redes
do Barcelona, o Hector Egurrola.»
O Planeta Desportivo quer agradecer, desta forma, ao António Ramalhete, a disponibilidade demonstrada. Aproveito ainda para desejar ao António as maiores felicidades na sua vida desportiva.