Portugal vence Croácia e está nos quartos-de-final do Europeu; Fernando Santos promoveu várias alterações; Vitória sofrida, com golo de Quaresma a poucos minutos do final do prolongamento; Selecção defendeu em bloco baixo e teve dificuldades na saída de bola; Exibição pobre da equipa das quinas ao nível ofensivo; Pepe esteve imperial, num jogo em que Ronaldo passou quase despercebido.
Depois das exibições paupérrimas nos encontros da fase de grupos, a equipa pedia alterações. O povo português pedia alterações. Fernando Santos acedeu e promoveu várias mudanças na equipa inicial. Portugal entrou bem diferente do que tem sido habitual neste Europeu. Mais respeitador, com bloco abaixo e a defender no meio-campo, encurtando os espaços nas alas aos croatas. Com a profundidade sempre bem controlada, a equipa da Croácia não conseguia explorar os principais pontos desequilibradores. Com bola, a selecção portuguesa soube ser paciente, apesar da pressão croata dificultar e muito a saída controlada a partir da defesa. A primeira situação de golo (se é que assim se pode chamar) foi de Pepe, aos 24', após livre cobrado por Raphäel Guerreiro. Até ao intervalo, o jogo manteve-se num registo de estudo constante do adversário e de tentativas geralmente frustradas de importunar o guardião contrário. Apesar de tudo, a Croácia acelerou e mostrou maior pendor ofensivo nos últimos minutos, deixando Fernando Santos com algumas preocupações a discutir no balneário.
A Croácia entrou melhor na 2ª parte, com mais bola, mas agora também mais rápida no processo ofensivo. Brozovic e Vida estiveram mesmo perto do golo, mas a bola teimava em não acertar entre os postes. Logo aos 50', Fernando Santos, que sentia a equipa a perder intensidade na recuperação de bola, tirou André Gomes e lançou Renato Sanches. Aos 63', Portugal queixou-se, e com razão, de uma grande penalidade não assinalada sobre Nani. A selecção nacional crescia nesta altura, mas voltou a cair e a deixar a Croácia comandar a partida. Com Ronaldo muito posicional entre os centrais contrários, faltava presença no ataque e os contra-ataques portugueses raramente tinham o final desejado. Ainda assim, os 90 minutos terminaram sem que qualquer equipa desfizesse o nulo no marcador, pelo que o jogo seguiu para prolongamento.
Com ambas as equipas já esgotadas fisicamente, a 1ª parte do prolongamento teve pouco interesse. Muita discussão a meio-campo, várias faltas e escassas ocasiões de real perigo. A 2ª parte do prolongamento foi totalmente diferente. Muita Croácia, pouco Portugal e duas ocasiões soberanas para os jogadores da equipa axadrezada, uma delas com a bola a embater no poste da baliza de Patrício. E aos 117', completamente contra a corrente do encontro, Portugal chega ao golo da vitória. Contra-ataque conduzido por Renato Sanches, que serve Nani. O extremo colocou em Ronaldo que rematou contra Subasic e a bola sobrou fortuitamente para Quaresma, que só teve de encostar de cabeça para o fundo das redes croatas. Vitória portuguesa, com muito sofrimento, mas que conduz Portugal até aos "quartos" do Europeu de França. Segue-se a Polónia.
PORTUGAL
Rui Patrício: Poucos remates foram direitos à baliza portuguesa, mas o guardião do Sporting foi controlando as situações sem grandes problemas.
Cédric: Vigiou bem Perisic e não permitiu ao desequilibrador croata grandes malabarismos pelo seu lado. Ofensivamente não deu muito à equipa, mas cumpriu com o papel que Fernando Santos lhe destinou.
Fonte: Boa exibição, com muita segurança e onde ganhou a maioria dos duelos a Mandzukic. Em velocidade, teve mais dificuldades, mas conseguiu colmatar as lacunas a jogar em antecipação. Boa parelha com Pepe.
Pepe: Tal como José Fonte, fez uma exibição de qualidade, com vários cortes importantes. Esteve em todo o lado.
Guerreiro: Mais uma bela prestação. Defendeu bem e apareceu no ataque a espaços, criando situações de perigo para a baliza de Subasic.
William: Nem sempre teve pernas para acompanhar os adversários, mas com mais ou menos problemas foi agarrando o meio-campo. A presença de Danilo acabou por disfarçar as dificuldades que já evidenciava.
Adrien: Na componente física, um upgrade claro em relação a João Moutinho. Foi uma autêntica carraça e secou a produção do meio-campo croata, tendo tido problemas apenas com Modric, que ultrapassou o português várias vezes. Alguns erros ao nível do passe (nesse capítulo já fica a dever ao médio do Mónaco), mas sem comprometer.
João Mário: Boa 1ª parte, em especial com bola. Acabou por cair de rendimento nos segundos 45 minutos. Esteve sempre muito encostado à linha e acabou por perder influência. Saiu perto do final dos 90 minutos para dar lugar a Quaresma.
André Gomes: Cometeu muitos erros com bola e concedeu espaços a defender. Com claras dificuldades físicas, acabou por sair pouco depois do início da 2ª parte, por Renato Sanches.
Nani: Fisicamente desgastado, viu-se muitas vezes de costas para a baliza e com dificuldades em partir para o um para um. Na 2ª parte teve alguns bons pormenores, mas no final acabou por aparecer pouco nos ataques portugueses.
Ronaldo: No único remate que fez... surgiu o golo. Perdido entre os centrais, numa posição que não lhe é favorável, passou boa parte do tempo ao lado do jogo. Acaba, ainda assim, por estar ligado à vitória lusitana.
Renato Sanches: Muitos erros no passe e alguns desposicionamentos que podiam ter comprometido as aspirações portuguesas. Esteve precipitado nalgumas acções, mas foi melhorando. Acabou por ser determinante para a vitória portuguesa, ao conduzir o contra-ataque que deu o golo de Quaresma.
Quaresma: Marcou o golo da glória. De resto, teve uma entrada discreta, face ao que tem sido habitual.
Danilo: Ajudou a segurar o miolo, junto ao desgastado William.
FERNANDO SANTOS: Vitória com "veneno", à boa maneira italiana. A equipa tirou profundidade à Croácia e à criatividade de Modric. Portugal passou boa parte do tempo com bloco baixo, a defender e a tentar sair em contra-ataque. Ofensivamente a selecção nacional apareceu pouco e teve muitas dificuldades em sair a jogar. A forma como Ronaldo passou despercebido no encontro é prova disso. Há que melhorar muitos aspectos ao nível da transição ofensiva (isto é, do momento que se segue à recuperação da posse de bola). De qualquer forma, a abordagem acabou por ser premiada, ainda que com alguma sorte à mistura. Venha a Polónia.
CROÁCIA: Equipa personalizada, igual a si mesma, com processos lentos na circulação, apostando em Modric para acelerar o jogo para as alas, procurando os jogadores mais desequilibradores. De resto, o pequenino croata do Real Madrid foi um dos principais dinamizadores da equipa. Perisic esteve apagado e Brozovic também pouco se soltou. Em evidência esteve Vida, que "secou" Ronaldo e apareceu com perigo nas bolas paradas. Fica pelo caminho uma das equipas mais interessantes deste Europeu, com um leque de jogadores de grande qualidade.
HOMEM DO JOGO: Pepe (Portugal)
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