
(3-5 nos penaltis, após 1-1 no prolongamento)
Depois do emocionante jogo frente à Croácia, calhava em sorte à selecção nacional a Polónia de Lewandowski e companhia. Ambas as equipas vieram de jogos extremamente desgastantes nos oitavos-de-final, com recurso a prolongamento (no caso dos polacos, inclusive a grandes penalidades), e seria de expectar algumas mudanças nas formações iniciais. Fernando Santos, com os problemas físicos de Guerreiro e André Gomes voltou a mexer, e de novo a chamar Eliseu ao jogo, mas desta vez a colocar na equipa titular Renato Sanches, a jogar como ala direito no 4x4x2. Já Adam Nawalka manteve a estrutura base da equipa, sem nenhuma modificação em relação à equipa que defrontou a Suíça.
O jogo não poderia começar de pior forma para Portugal. Logo no primeiro minuto de jogo, Cédric falha a intercepção, Grosicki aproveita o espaço nas costas, e cruza para o coração da área, onde surge a estrela da companhia, Robert Lewandowski, a finalizar perante a passividade da defesa portuguesa. Início terrível. Portugal demorou muito a entrar no jogo, com imensas dificuldades em conseguir criar qualquer perigo junto da baliza de Fabianski. Apenas Renato Sanches e Adrien iam conseguindo pegar no jogo da equipa, mas o acompanhamento ia sendo inexistente por parte do resto dos jogadores. Na primeira jogada com alguma qualidade na construção, Portugal chegou ao golo: jogada organizada por Renato, uma boa tabela com Nani, e o jovem médio do Benfica a marcar, com um bom remate de fora da área, com a bola ainda a bater em Krychowiak antes de entrar. Um golo na estreia a titular pela Seleção Nacional. Até ao final da primeira parte, nenhum equipa quis assumir o risco, com ambas à espera do intervalo para poder refrescar e repensar o segundo tempo.
A toada manteve-se nos segundos 45 minutos, com ambas as equipas a primarem pela cautela e por uma abordagem preferencialmente defensiva. Não houve grandes oportunidades de golo junto das duas balizas, apesar da entrada mais decidida da Polónia, e a aproveitar alguma desorientação. Cédric e Eliseu iam tendo imensas dificuldades em suster as subidas de Kuba e Grosicki, e ia sendo um Pepe absolutamente estratosférico a limpar tudo o que aparecia nas imediações da área de Portugal. A entrada de Moutinho deu outra frescura ao meio-campo nacional, e foi o próprio médio do Mónaco que criou praticamente sozinho a melhor oportunidade do jogo para Portugal, com um passe magistral para Ronaldo, com o capitão, em posição privilegiadíssima, a falhar o remate perante Fabianski. O jogo decorreu naturalmente para o prolongamento, e nos 30 minutos que o compuseram, nenhuma equipa esteve disposta a arriscar, preferindo, uma vez mais, organizar-se defensivamente e não permitir espaços ao adversário. Com o desgaste acumulado, Danilo acabou por substituir William ainda na primeira parte, não só para evitar um segundo cartão amarelo, mas também para ter uma unidade com outra disponibilidade física para estancar as eventuais iniciativas que a Polónia tentasse construir. Nas grandes penalidades, a sorte sorriu a Portugal: os três primeiros foram marcados de forma irrepreensível, pelos jogadores de ambas as equipas. Nani, chamado a bater, também não falhou, mas logo a seguir, Kuba permitiu uma intervenção enorme de Rui Patrício, que enchia de esperança uma nação. No penalti decisivo, Ricardo Quaresma não vacilou, e catapultou Portugal para as meias-finais do EURO 2016. Mais um passo rumo a Paris, e mais um passo para a promessa de Fernando Santos, de estar no Saint-Denis no próximo dia 10 de Julho.
PORTUGAL
Rui Patrício: Não teve muito trabalho durante o jogo, mas na hora decisiva, em que todos os holofotes estavam nele, defendeu a grande penalidade de Kuba, e foi o talismã que permitiu alcançar as meias-finais.
Cédric Soares: Começo terrível, com um erro de amador, a deixar a bola bater e a ficar ao alcance de Grosicki, no lance do golo. A partir daí estabilizou, fazendo uma exibição pouco vistosa, e com alguns erros à mistura.
Eliseu: Uma exibição na mesma linha da de Cédric, mas sem nenhum erro grave a comprometer a equipa no processo defensivo.
Pepe: Mas que exibição! Contra a Croácia já havia estado em excelente plano, mas hoje, em Marselha, foi um autêntico gigante em campo, limpando praticamente todos os lances de perigo criados pela Polónia, e com várias intercepções em zonas adiantadas do terreno. E à primeira vista, o cansaço não se vai notando. Absolutamente fundamental.
José Fonte: Cumpriu bem o seu papel, e é um central que tem uma característica muito apreciada por Fernando Santos: é prático, e não inventa. Pouco disponível para a construção, mas defensivamente esteve quase sempre bem.
William Carvalho: Algumas dificuldades na primeira parte para suster a mobilidade de Milik e Lewandowski, mas cresceu imenso na segunda, e sugou completamente o ataque polaco. Saiu com imenso desgaste acumulado, sendo que vai falhar o jogo das meias-finais devido a castigo.
Adrien Silva: Uma das melhores unidades de Portugal, apesar das diferenças na posição que teve que assumir, em alguns momentos. Por vezes surgiu como jogador mais próximo da dupla da frente, mas cumpriu bem o seu papel.
Renato Sanches: Quase sempre ele a ter a iniciativa, e muito bem no envolvimento para a sua estreia a marcar, mas continua a cometer vários erros, com e sem bola, que contra equipas de outra valia serão fatais.
João Mário: Encostado ao lado esquerdo, continua a não conseguir mostrar o que consegue na zona central e do lado direito. Saiu naturalmente na segunda parte.
Nani: Mostrou a mesma dinâmica em zona central que mostrou noutros jogos, mas sem grandes oportunidades para visar a baliza de Fabianski.
Cristiano Ronaldo: Jogo muito discreto do capitão português. Várias situações para marcar que foram desperdiçadas, e um par de jogadas em que, com outra decisão, poderia ter levado mais perigo à baliza da Polónia.
João Moutinho: Entrou bem, e logo com um grande passe para Ronaldo. Seguro na hora das grandes penalidades.
Ricardo Quaresma: Foi chamado para agitar o jogo, e foi o que fez a espaços. Na hora da verdade, foi dele o penalti que lançou Portugal para as meias-finais.
Danilo Pereira: Com a insuficiência física de William, acabou por entrar, para tentar estancar e evitar as transições da Polónia.
FERNANDO SANTOS: A estratégia para este jogo estava clara e bem delineada na mente do seleccionador português. Tentar anular Lewandowski, e ao mesmo tempo evitar que os extremos da Polónia não conseguissem explorar o espaço interior para criar desequilíbrios e superioridade numérica. As coisas podiam ter corrido de forma terrível, depois do golo madrugador, mas a equipa equilibrou-se, e depois do golo do empate, estabilizou o seu jogo, não só tacticamente, como emocionalmente. No entanto, é difícil ver uma selecção com tanta qualidade individual e jogar tão pouco, e que por si só coloca desde logo um dilema: jogar bem e não ganhar, ou jogar mal e ir ganhando (neste caso, empatando)? Os sábios e estudiosos do futebol dizem-nos que equipa que joga bem estará sempre mais próxima de chegar à vitória. Mas para já, vitória é algo que Portugal ainda não conhece nos 90 minutos, e terá que subir bastante os seus níveis de concentração se quiser encarar com toda a seriedade os próximos jogos.
POLÓNIA: Com o golo logo no primeiro minuto, as coisas afiguravam-se risonhas para a equipa de Adam Nawalka. No entanto, o principal objectivo da Polónia durante todo o jogo foi anular as investidas ofensivas de Portugal, e apenas atacar pela certa, baseando-se na velocidade dos extremos e a procurar a profundidade nas costas da linha defensiva portuguesa. Mas com os recursos que tem à sua disposição, Nawalka podia e deveria ter uma Polónia muito mais temível e com outra qualidade de jogo. Krychowiak foi enorme no meio-campo, e o único do meio-campo para trás que tem capacidade para construir e distribuir jogo com segurança a partir de zonas mais recuadas, sendo o único polaco em grande evidência no Velódrome.
HOMEM DO JOGO: Pepe (Portugal)
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