Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura, foi este o lema de todo o jogo, onde a Espanha conseguiu levar a melhor com golo de Piqué aos 87'; Campeões Europeus sentiram muitas dificuldades para conseguirem ultrapassar a barreira defensiva da República Checa; Checos só defenderam praticamente, tentando aproveitar as bolas paradas para causar algum perigo junto da baliza de De Gea; Iniesta voltou a demonstrar toda a sua classe e qualidade, num jogo onde faltou alguma criatividade à sua equipa; Mais um jogo deste Euro que termina com uma vitória pela margem mínima.
Depois da desilusão do último Mundial, a seleção espanhola, actual bi-campeã da Europa em título, queria entrar da melhor maneira neste Euro 2016. No jogo de estreia, tinha pela frente a República Checa, vencedora da prova em 1976 (ainda como Checoslováquia), que apesar de não falhar uma fase final desde 1996, onde chegou mesmo à final, tem andado longe das fases decisivas da prova. No confronto histórico entre as duas seleções, vantagem para Espanha, que leva 5 vitórias, 1 empate e 3 derrotas.
O jogo começou a um ritmo baixo, com a Espanha a tentar o seu habitual jogo de passe curto e muita circulação, mas sem a velocidade que outras épocas. Os checos tentavam um jogo mais directo, em busca de segundas bolas, com Necid a ser a referência ofensiva da equipa. Aos 16' o primeiro lance de perigo da partida, com Ramos a lançar longo para Juanfran na direita, este a combinar com Silva, que cruza de primeira para Morata, mas o avançado atira à figura de Čech que bem posicionado faz uma boa defesa. Esse lance deu mais alguma confiança à La Roja, que começou a pressionar mais os checos e a chegar-se mais à frente, empurrando a República Checa para as suas zonas mais defensivas. Aos 27', nova boa chance para a Espanha, com Iniesta a descobrir bem Morata, este com um excelente trabalho sobre Sivok, e depois a rematar bem cruzado, para uma boa defesa de Čech. A maior pressão dos espanhóis ia-se fazendo sentir, mas as suas tentativas de finalização iam esbarrando no guardião checo, que negou o golo a Jordi Alba, num bom remate do lado esquerdo, e depois a uma boa iniciativa na direita com Juanfran a assistir David Silva. Mesmo em cima do intervalo, Necid, com um remate de longe tentou surpreender De Gea, mas o guardião espanhol estava atento e resolveu bem. Chegou assim o intervalo, com 0-0 no marcador, num jogo de sentido único, com a Espanha a dominar a bola durante grande parte do tempo, mas onde lhe faltou um pouco mais de agressividade ofensiva para ultrapassar a barreira defensiva checa e chegar assim ao golo.
A Espanha entrou na 2ª parte com o pé no acelerador, e logo a abrir Hubník ia traindo Čech na sequência de um cruzamento de Morata. No pontapé de canto seguinte, Sergio Ramos muito perto de inaugurar o marcador, mas a defensiva da República Checa a conseguir aliviar o perigo. Os comandados de Vicente del Bosque continuavam a jogar muito tempo no meio-campo adversário, mas o golo tardava em aparecer. Aos 55', a República Checa teve a sua melhor ocasião até ao momento, na sequência de um livre lateral, Krejčí coloca a bola na grande área, com Hubník a desviar, mas a bola a sair fraca para defesa de De Gea. Cerca de 10 minutos depois, em novo lance de bola parada, esteve perto o golo dos checos, com Fàbregas a tirar a bola praticamente em cima da linha de golo, depois de uma cabeçada de Gebre Selassie. O tempo ia passando, com o sentido do jogo a manter-se, mas com o discernimento a faltar cada vez mais. Aos 72', David Silva tentava o remate de fora de área, mas o acerto não foi o melhor. Aos 77', Aduriz com um pontapé bicicleta fez o público levantar-se, mas a bola passou novamente ao lado da baliza de Čech. Os espanhóis continuavam a dominar, mas a boa organização defensiva da equipa de Vrba, não deixava os seus adversários terem espaço para poderem finalizar. Chegavam assim os últimos 5 minutos da partida, com o nulo ainda no marcador, para desespero da multidão espanhola. Foi então que aos 87', depois de um pontapé de canto, a bola sobrou para Iniesta, com este a cruzar para o 2º poste, onde aparece Piqué, de cabeça a fazer o 1º golo do jogo. Faltava muito pouco tempo para acabar o jogo, e agora era tempo da Espanha fazer aquilo que tão bem sabe, guardar a bola. Mas já depois dos 90', ainda houve uma grande ocasião para a República Checa, com Darida a rematar forte, já dentro da área, mas com De Gea a guardar o 1-0. Terminou assim o jogo, com um triunfo justo de Espanha, mas onde teve muita dificuldade para conseguir quebrar a muralha defensiva da turma checa.
INIESTA COMANDOU UMA EQUIPA DESINSPIRADA
O tiki-taka da Espanha já não é o que era. A turma espanhola, que assenta o seu jogo em passes curtos, muita posse de bola, bastante circulação, com a bola a passar pelos 3 corredores, não conseguiu imprimir a velocidade e dinâmica necessárias para resolver este jogo mais cedo. É certo que o bloco muito baixo da República Checa não facilitou a vida aos espanhóis, mas a equipa tem armas para poder fazer muito melhor. Juanfran e Jordi Alba não conseguiram dar a profundidade que é habitual, pois foram muito condicionados pelos dois médios ala da República Checa. Fàbregas, que teve uma acção defensiva muito importante, nunca conseguiu imprimir mais velocidade no momento de transição, que a equipa necessitava. David Silva e Nolito, sempre com movimentos interiores, não estiveram ao seu melhor nível, faltado-lhes um pouco mais de criatividade e imprevisibilidade em alguns momentos. Morata trabalhou bastante, tendo inclusivamente ocasiões para marcar, mas a equipa beneficiou da sua substituição por Aduriz, que deu mais presença na área à sua equipa. A excepção foi Iniesta, que com toda a sua qualidade, tanto com bola, como sem bola, tentou dar alguma fluidez na circulação a meio-campo e assertividade no passe. A dupla Piqué e Ramos não teve muito trabalho, mas o central do Barcelona acabou mesmo por ser decisivo, ao fazer o único golo do jogo.
A República Checa limitou-se praticamente a defender durante todo o jogo, fazendo duas linhas defensivas, e deixando Necid solto na frente. O plano quase ia dando resultado, não fosse a cabeçada de Piqué já perto do final. Do ponto de vista ofensivo, a equipa quase nunca conseguiu sair com sucesso no contra-ataque, sendo nas bolas paradas, os momentos onde conseguiu colocar a Espanha mais em sentido. Sivok e Hubník estiveram bastante certos, ganhando praticamente todos os duelos no ar. Gebre Selassie e Krejčí, foram praticamente laterais, eles que passaram quase o jogo todo a defender, sempre na ajuda a Kadeřábek e Limberský, respectivamente. A dupla de meio-campo, composta por Plašil e Darida, vê-se que tem alguma qualidade com bola, mas neste jogo só conseguiu demonstrar a parte defensiva do seu jogo, procurando tapar os caminhos para a sua baliza no centro do terreno. Rosický, já com 35 anos, fez um jogo positivo, vestindo uma pele que não estamos habituados a vê-lo, mais de combate, procurando sempre lançar Necid, quando teve oportunidade. O avançado checo, fruto da sua constituição física, joga bem de costas para a baliza, mas teve um trabalho ingrato neste jogo, estando sempre desapoiado, e vindo muitas vezes ajudar a defender. Čech demonstrou mais uma vez todas as suas qualidades como guarda-redes, fazendo uma série de defesas de excelente nível.
HOMEM DO JOGO: Andrés Iniesta (Espanha)
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