Recuperações históricas, recordes batidos e ideias entusiasmantes de futebol. Foi isto que nos trouxe a edição 2015/16 da Serie A, uma das melhores de que há memória.
"Juventus? Outra vez?", dirão aqueles que só olharam para a classificação final e não viram mais nada do que se passou durante os quase 9 meses de competição. É verdade que no fim a Vecchia Signora sagrou-se campeã pela quinta vez consecutiva e fez a dobradinha pela segunda, mas desta vez não se pode dizer que não tenha feito a sua parte. Os oponentes tiveram 10 jornadas de avanço e mesmo assim deixaram-se apanhar pelo rolo compressor de Massimiliano Allegri. Esta é apenas uma das muitas histórias que fizeram a Serie A 2015/16. Fiquem para ler o resto.
O RENASCER DA VECCHIA SIGNORA
Antes do começo desta aventura, longe de imaginar que iria ser tão cheia de percalços, Max Allegri disse que esta época ia ser como um mudar de pele. Foi mais do que isso. A pele antiga custou a sair, mas por baixo nasceu outra, mais nova e sem rugas. Ficar sem Pirlo, Vidal e Tévez foi mais difícil do que Allegri antecipou e só quando percebeu que não os podia substituir, que a única opção seria mudar, é que a equipa pôde crescer e tornar-se numa máquina de jogar futebol. O sonho do histórico penta parecia mais longe quando os Campeões registaram o seu pior início de época das últimas décadas. A derrota com o Sassuolo a 28 de Outubro foi a quarta nas primeiras dez jornadas, mais do que em toda a temporada de 2014/15. Já tudo se questionava, principalmente a sobrevivência de Allegri no comando técnico na equipa. Já ninguém acreditava no penta. Depois veio o Derby de Turim. O dramático golo de Juan Cuadrado, uma das caras novas da Juventus, deu a vitória à Juventus no minuto 94 e foi o catalista para uma recuperação épica. Antes desse jogo, a Juventus estava a 11 pontos da liderança. Acabou a época com 9 pontos de vantagem sobre o segundo. 20 pontos de diferença em 28 jogos. O sonho do penta tornou-se realidade. A Juventus tornou-se o primeiro clube da história do futebol italiano a conquistar dois pentas.
Na verdadeira montanha russa de emoções que foi a época da Juventus, o destino dos Bianconeri esteve intimamente ligado à sorte. A equipa não jogou mal nos primeiros dez jogos, mas não aproveitava as várias oportunidades de golo que criava, enquanto os adversários só precisavam de uma. Nesses 10 jogos para esquecer, a Juventus converteu apenas 6.7% das suas oportunidades. Nos restantes 28 jogos, esse número quase triplicou (16.8%). Na mesma onda, a eficácia dos adversários foi de 13.5% nos primeiros dez jogos e baixou para uns difícil de acreditar 3.7%. Para este número muito contribuiu o recorde de Gianluigi Buffon que esteve 973 minutos sem sofrer qualquer golo, batendo os 929 de Sebastiano Rossi. Aos 38 anos, Buffon continua a ser um dos melhores do mundo na sua posição. Foi uma temporada extraordinária a todos os níveis para o guardião italiano. Para além do recorde histórico e de fazer defesas importantíssimas dentro do campo, Buffon foi tão ao mais importante fora dele. Foram as suas palavras (e as de Evra) no fim do jogo contra o Sassuolo que impulsionaram a recuperação. A sua ideia é retirar-se depois do Campeonato do Mundo de 2018. Por isso, aproveitem enquanto ainda o têm. No momento da sua glória, um momento que tinha todo o direito de reclamar como seu e só seu, Buffon relembrou que nada teria sido possível sem os seus três mosqueteiros: Leonardo Bonucci, Giorgio Chiellini e Andrea Barzagli.
Apesar dos números apontar para mera falta de sorte no início da temporada, os problemas tácticos estavam à vista. Curiosamente, nos 10 primeiros jogos a Juventus teve 57.6% de posse de bola. Na histórica série de 25 vitórias consecutivas, esse número caiu para os 53%. Nos primeiros três meses da temporada, a Juventus foi uma equipa que controlava a bola, mas não o espaço. Os jogadores não aproveitavam o espaço concedido pelo adversário, as movimentações eram previsíveis e descoordenadas e isso resultava numa posse de bola estéril e limitada à periferia. Quando perdia a bola, a equipa não estava na posição correcta para defender os contra-ataques. Numa liga italiana, onde todos sabem, pelo menos, defender e contra-atacar, isso custou caro. No entanto, esses 10 primeiros jogos foram importantíssimos para Allegri afinar a máquina. O treinador italiano não usa um sistema onde tenta encaixa os jogadores que tem à sua disposição. O seu método é muito mais orgânico. Ele experimenta todas as combinações possíveis e procura as ligações que naturalmente se estabelecem entre jogadores. Depois de reunidas as provas, Allegri tinha um bom conhecimento da sua equipa e das várias formas de jogar que ela poderia interpretar, mudando apenas uma ou duas peças.
Os três grandes problemas tácticos que saltaram à vista nos primeiros jogos foram: a falta de Pirlo na fase de construção, a falta de Vidal na pressão e a falta de Tévez no último terço. Allegri ultrapassou tudo isto com a combinação certa de individualidades a trabalhar em conjunto. Depois de experimentar vários sistemas, Allegri assentou no 3-5-2. Para resolver o primeiro problema, Allegri usou a qualidade de saída com bola de Leonardo Bonucci e a capacidade de Claudio Marchisio em todas as fases do jogo. Não é por acaso que a equipa melhorou automaticamente assim que o médio regressou de lesão. Marchisio assumiu todas as tarefas organizativas que eram de Pirlo, com a ajuda preciosa de Bonucci no passe mais longo, e melhorou nas tarefas defensivas. Para resolver o segundo problema, Allegri encontrou uma resposta individual (Khedira) e uma colectiva. O seu 3-5-2 facilmente se transformava num 4-4-2 quando queria pressionar. Se o adversário tentasse conduzir pelo lado direiro, Cuadrado ou Lichtsteiner subiam na pressão e o médio ala do lado contrário descia ao nível da defesa para fazer o quarteto. Para resolver o terceiro e último problema, Allegri recorreu a mais uma ligação natural entre jogadores, neste caso entre Paul Pogba e Paulo Dybala.
Depois de meses de procura incessante, o treinador italiano desistiu de tentar encontrar o seu trequartatista e percebeu que já tinha no seu plantel o homem perfeito para ligar meio-campo e ataque. Dybala deixou de ser o avançado móvel, a jogar à frente de um criativo (Franco Vázquez), que procurava explorar a profundidade, para passar a ser um um nove e meio. A sua identificação do espaço entre-linhas, velocidade, drible, visão de jogo e capacidade de finalização fizeram dele o homem que Allegri tinha idealizado para aquele lugar. Os números falam por si. 16 golos e 8 assistências, melhor que Carlitos Tévez na sua primeira época de branco e negro. No meio-campo, Pogba terminou a sua evolução para um jogador completo. Roubou e interceptou bolas como um médio defensivo, construiu jogo como um regista, jogou no espaço entre-linhas e assistiu como um playmaker, correu de área-a-área como um box-to-box. Ocupou sozinho muitos dos espaços deixados livres pelas ausências de Pirlo e Vidal. Foi o médio da Serie A com mais assistências (12), mais remates à baliza (3.5 por jogo) e mais dribles (2.9 por jogo), sem descuidar os desarmes (2.9 por jogo, 2ª melhor da Juventus) e as intercepções (1.4 por jogo). Assim se constrói um campeão.
[next]NÁPOLES TÃO PERTO DO SONHO
Apesar do título ter fugido no fim, esta foi uma época fenomenal por parte do Nápoles. As expectativas não podiam ser mais baixas. A venda de bilhetes caiu a pique, de tal maneira que em Agosto só o Carpi tinha vendido menos bilhetes de época. O novo treinador, Maurizio Sarri, que há pouco tempo trabalhava na banca, chegava ao Nápoles por ter alcançado a manutenção com o Empoli na época passada e foi publicamente colocado em causa pela maior lenda do clube. Maradona achava que Sarri não era o homem certo para levar o Nápoles à Liga dos Campeões. Sarri não só qualificou o Nápoles para a maior competição do futebol europeu com relativa facilidade, como esteve muito perto do título e praticou o melhor futebol que se viu na liga italiana este ano. Em alguns períodos, esta equipa foi estupenda, vencendo por 4 golos ou mais em 8 ocasiões diferentes. O seu brilhantismo fez acreditar no Scudetto, mas o 2º lugar já foi um resultado acima do esperado. Em relação à época passada, o Nápoles fez mais 19 pontos e praticou um futebol 100 vezes mais atraente.
Se olharmos para os números, eles mostram-nos o domínio da Juventus sobre toda a Serie A. Remates realizados, remates concedidos, remates à baliza, nisto tudo a Juventus esteve por cima de todos, menos de uma equipa: o Nápoles. A equipa de Sarri só não foi melhor nos remates concedidos, permitindo mais 4 do que os Bianconeri. O seu diferencial de remates à baliza por jogo foi de +4.08, o segundo melhor registo na Serie A desde 2006/07, só ultrapassado pela Juventus de 2011/12 (+4.16). Ou seja, em média, o Nápoles fez mais 4.08 remates à baliza que o seu adversário. Isto demonstra bem a capacidade do Partenopei esta temporada. O Nápoles bateu o seu recorde de pontos conquistados (82) e golos marcados (80). Estiveram na liderança isolada durante 7 jornadas, algo que não acontecia desde a era de Maradona. Fizeram do San Paolo fortaleza e terminaram a época invictos em casa (16 vitórias e 3 empates), feito apenas igualado nas Big 5 pelo Borussia Dortmund. Sarri melhorou a equipa em todos os sectores e sem grandes contratações que o ajudassem.
Do onze habitual, só Pepe Reina, Elseid Hysaj e Allan foram caras novas. Todos os outros foram aproveitados por Sarri e todos eles tiveram um ano incomparavelmente melhor ao anterior. Na defesa, fez o que parecia impossível: tornar Raúl Albiol e Kalidou Koulibaly numa dupla de centrais eficaz. Retirando um ou outro lapso de Albiol, a defesa do Nápoles funcionou muito bem, com Koulibaly a subir bastante a sua cotação no mercado. Nas laterais, Hysaj foi um imenso upgrade ao que o Nápoles tinha anteriormente e Ghoulam fez uma das melhores épocas da sua carreira. Mas foi no meio-campo que Sarri fez a sua magia. Mesmo tendo trazido Mirko Valdifiori do Empoli, Sarri acabou por encontrar um solução melhor no plantel do Nápoles: Jorginho. Juntamente com Allan e Marek Hamsik, o brasileiro formou um tridente dinâmico e eficiente em todas as fases do jogo. Jorginho marcou o ritmo, Allan imprimiu a velocidade e Hamsik, jogando mais recuado do que noutras épocas, teve muito mais influência sobre o jogo da sua equipa, terminando com 6 golos e 11 assistências. Nas alas, José Callejón e Lorenzo Insigne tiveram épocas de sonho, particularmente o italiano que chegou a ser o melhor jogador a actuar na Serie A durante certos períodos da temporada. E como esquecer o homem-golo, o quebra-recordes e melhor marcador do campeonato, Gonzalo Higuaín. No fim, faltou a profundidade que tem a Juventus, a possibilidade de tirar da cartola um Cuadrado, um Alex Sandro, um Zaza que foram essenciais em alguns jogos mais complicados. Os onze jogadores preferidos por Sarri jogaram 88% dos minutos, comparando com 68% do lado da Juventus. Na fase final da época, isso fez a diferença.
[next]COMO LUCIANO SPALLETTI CONCERTOU A ROMA
Depois de uma época de 2014/15 decepcionante, onde mais uma vez a Roma perdeu o Scudetto para a Juventus, o Presidente James Pallotta decidiu reconduzir Rudi Garcia no cargo. A campanha não podia ter começado melhor. À 10ª jornada, sentava-se confortavelmente na liderança com 11 pontos de vantagem sobre os Bianconeri. No entanto, os problemas de base da equipa mantinham-se e revelaram-se todos a partir do final de Novembro. Tudo começou num empate a dois com o Bolonha a 21 desse mês. A Roma só voltaria a ganhar um mês depois, por 2-0 ao Génova. Mas foi só um jogo. Os Giallorossi só voltaram a conquistar duas vitórias consecutivas em Fevereiro deste ano, já com Luciano Spalletti no comando. Pelo caminho, ficaram uma série de 7 jogos para todas as competições sem ganhar, incluindo uma humilhante derrota por 6-1 com o Barcelona a contar para a Liga dos Campeões e uma eliminação histórica da taça às mãos do Spezia. Garcia, já fragilizado da época passada, não resistiu a este período negro. Spalletti foi o escolhido para o suceder.
Nem toda a gente ficou convencida com a escolha do antigo treinador do Zenit. Spalletti já tinha treinado a Roma entre 2005 e 2009 e saiu abruptamente em rota de colisão com as duas principais figuras do clube, Francesco Totti e Daniele De Rossi. No entanto, o treinador italiano encetou uma recuperação extraordinário que permitiu à Roma terminar a época no terceiro lugar. Até às últimas jornadas sonharam com o segundo. Só a Juventus conquistou mais pontos do que a Roma na segunda metade do campeonato. Qualquer número que se olhe melhorou com Spalletti. A equipa começou a rematar mais (14.4 por jogo com Garcia, 16.3 com Spalletti), a acertar mais na baliza (1.9 golos por jogo com Garcia, 2.5 com Spalletti) e a conceder menos golos (1.2 com Garcia, 1 com Spalletti). A única pedra no caminho foi a sua parca utilização de Totti que deixou os adeptos contra si, apesar dos resultados positivos, mas até isso virou uma força da equipa. Spalletti provou que, nesta fase da sua carreira, Totti é uma arma muito mais eficaz vindo do banco, para ajudar a resolver um jogo complicado, em vez de lhe estar a ser pedido um esforço contínuo durante 90 minutos.
Mas Spalletti não foi a única face da mudança da Roma. O treinador italiano beneficiou de um janela de transferência de inverno muito bem sucedida por parte de Walter Sabatini, ao contrário do que tinha acontecido no verão. O director desportivo dos Giallorossi pescou Diego Perotti e Stephan El Shaarawy, dois jogadores que se tornaram fundamentais para a nova Roma. Spalletti abandonou o flop Edin Dzeko e montou um tridente ofensivo bastante móvel, com El Saarawy e Mohamed Salah nas alas e Perotti no meio. A fluidez do ataque da Roma maravilhou em alguns jogos. Perante a constante movimentação dos homens da frente, as defesas contrárias tinham muitas dificuldades para acertar as marcações. Perotti contribuiu com 0.52 assistências e 3.36 dribles por 90 minutos. El Shaarawy foi o mais rematador dos três, com 3.77 remates por 90 minutos, e fez mais do que suficiente para justificar a activação da opção de compra. Nos últimos 19 jogos da época, este trio foi responsável por 9 golos e 6 assistências.
[next]O COLAPSO DOS DOIS PRIMEIROS LÍDERES: INTER E FIORENTINA
O início de temporada prometeu muito, mas tanto o Inter como a Fiorentina enfrentaram violentos reality checks. A queda do Inter na segunda metade do campeonato era das coisas mais fáceis de prever no futebol europeu. A equipa de Roberto Mancini chegou ao final do ano de 2015 na liderança, graças à melhor defesa do campeonato que sofreu apenas 11 golos nos primeiros 17 jogos, mas viam-se de longe as fragilidades do sistema Nerazzurri. Na primeira volta, Samir Handanovic defendeu 85.5% dos remates que enfrentou, desempenho admirável, mas certamente insustentável. De facto, a percentagem caiu até aos 72.2% até ao final da temporada e o Inter caiu também na classificação. Na primeira volta, Handanovic registou 12 jogos sem sofrer golos. Na segunda, apenas 3. E isto não é criticar a performance do guarda-redes esloveno, uma das melhores unidades dos Nerazzurri. Interessa antes perceber que o sucesso do Inter era baseado numa dependência excessiva na sua eficácia defensiva e numa momento de forma insustentável do seu guarda-redes. Quando isso parou e Handanovic regressou ao normal, o ataque do Inter não foi capaz de acompanhar essa queda.
Contudo, não devemos deixar de congratular o dois novos baluartes da defesa de Mancini e duas das contratações do ano na Serie A: Murillo e Miranda. A nova dupla de centrais deu-se bem desde o primeiro dia e foram a base para a eficácia defensiva do Inter. No entanto, para a frente as coisa foram mais complicadas. O meio-campo muito defensivo (muitas vezes com Gary Medel e Filipe Melo em campo ao mesmo tempo) partiu a equipa. Geoffrey Kondogbia nunca teve a confiança de Mancini e só quando Marcelo Brozovic ganhou o seu espaço é que a equipa começou a ligar melhor o jogo. No ataque, foi tudo muito feito à base das individualidades. Muita confusão nas movimentações e com pouca ou nenhuma organização. Muitas vezes ninguém ocupava o espaço nas costas de Icardi. Stevan Jovetic e Adem Ljajic, dos poucos no plantel do Inter com capacidade para criar oportunidades de golo para si e para os outros, foram muitas vezes relegados para o banco. Salvou-se Ivan Perisic, que esteve intratável desde o início do ano. Mas mais uma vez, tudo devido à sua qualidade individual e não à organização colectiva.
A queda da Fiorentina teve outra origem, mas também era relativamente fácil de prever. Ao contrário do Inter, os Viola beneficiaram de um tremendo arranque de temporada de Nikola Kalinic, também ele insustentável. Quando a fonte de golos do croata secou, a Fiorentina começou a empatar muitos jogos e isso teve um efeito nefasto na sua classificação. Paulo Sousa colocou a equipa de Florença a jogar um futebol atractivo, de posse, mas com maior verticalização do que o seu antecessor, Vincenzo Montella, mas no fim acabou por sofrer do mesmo problema: pouca penetração. Com jogadores como Borja Valero e Matias Vecino, a Fiorentina nunca teve dificuldades em construir. O seu controlo sobre a bola e sobre o jogo chegou a sufocar muitos adversários, mas faltava o último passe. Faltou um guarda-redes mais consistente e também maior profundidade no plantel para lidar com uma campanha prolongada na Liga Europa. No global, esta foi uma época bastante positiva de Paulo Sousa que fez os adeptos Viola sonhar, mesmo com uma equipa inferior em qualidade e em soluções em relação à época passada. Para dar mais, esta Fiorentina precisa de reforços.
[next]O MILAGRE DO SASSUOLO
O Sassuolo terminou a época sem saber se o milagre se tinha dado. Precisou de esperar até ao desfecho da final da Taça de Itália, que a Juventus venceu no prolongamento, para puder festejar um feito histórico. A derrota do Milan significava que os Neroverdi se apuraram pela primeira vez para uma competição europeia na sua terceira época na Serie A. As ascensão meteórica do Sassuolo pela pirâmide do futebol italiano - subiram da quarta divisão à primeira em oito anos - continua na Serie A. Na primeira época, garantiram a manutenção contra todos os prognósticos com 34 pontos. Na segunda, ficaram em 12º lugar com 49 pontos. Este época, fizeram 7º com 61 pontos e uma presença garantida na Liga Europa. Ano após ano, o Sassuolo prova o que se pode fazer com uma gestão bem planeada, estabilidade e um bom treinador. Um modelo a seguir por todos.
Com um plantel sem grandes alterações em relação à época passada, exceptuando a saída de Simone Zaza, esta conquista explica-se com um misto de mérito próprio e demérito da concorrência. Os Neroverdi beneficiaram de épocas negativas dos habituais candidatos aos lugares europeus (Milan, Lazio, Torino), principalmente da queda abrupta dos clubes de Génova. No entanto, o Sassuolo teve a virtude de ser uma equipa consistente, conquistando 31 pontos na primeira volta e 30 na segunda, o que se enquadra bem com a estratégia do clube. Depois de uma época de afirmação no panorama do futebol italiano, a equipa podia ter decidido lucrar e desmantelar o plantel, mas não o fez. Manteve a aposta nos mesmos jogadores, maioritariamente italianos e jovens, e deu a Eusebio Di Francesco toda a serenidade para fazer o seu trabalho. Em nenhuma outra época se notou mais a mão do treinador. Já todos conhecíamos o talento que esta equipa tem do meio-campo para frente. Mesmo perdendo Zaza, o Sassuolo ainda tem Domenico Berardi e Nicola Sansone, dois dos melhores extremos do campeonato italiano. Gregoire Defrel foi uma excelente adição (o que revela a astúcia do clube no mercado de transferências) e Matteo Politano a grande revelação da temporada, terminado com 5 golos e 2 assistências, muito importante numa fase menos boa de Berardi. Onde esta equipa melhorou bastante foi na defesa, que acabou como a 4ª melhor do campeonato. Francesco Acerbi foi o grande destaque individual. Para além de formar com Paolo Cannavaro, Federico Peluso e Sime Vrsaljko um dos mais sólidos quartetos defensivos da Serie A, Acerbi contribui com 4 golos de bola parada.
Numa equipa que quer ter a bola e sabe o que fazer com ela, não tendo medo que colocar 4 ou 5 homens no ataque, torna-se muito importante ter um homem de equilíbrios, um jogador como Francesco Magnanelli, o coração e a cabeça deste Sassuolo. Magnanelli é um mago das segundas bolas. Não há lance dividido em que ele não chegue à bola primeiro que o adversário. Nos últimos anos tem desenvolvido também as suas capacidade como organizador de jogo, o que o torna num dos melhores interpretes da posição de médio defensivo na Serie A. É um jogador com níveis de concentração altíssimos durante os 90 minutos e que se movimenta mentalmente por todas as fases do jogo como poucos. Esta melhoria não se deveu só às individualidades, partiu do colectivo. Se o Sassuolo era por vezes uma equipa que se desorganizava na sua procura desenfreada pelo golo, agora não. É um colectivo equilibrado, capaz de competir com qualquer equipa e em qualquer situação. Só Juventus, Roma e Nápoles perderam menos jogos que o Sassuolo. Em 14 jogos contra Juventus, Nápoles, Roma, Inter, Fiorentina, Milan e Lazio, os Neroverdi ganharam 7 e perderam apenas 5. Próximo passo? Giorgio Squinzi, o dono do clube, já pensa na Liga dos Campeões.
[next]AS DESILUSÕES
Começa a ser difícil apontar o Milan como uma desilusão. Infelizmente, este tipo de temporada começa a ser o standard do gigante de Milão. Tal como o Inter, os Rossoneri apostaram forte no reforço (75 milhões de euros só em Carlos Bacca, Alessio Romagnoli e Andrea Bertolacci), mas, ao contrário dos seus rivais, isso não se traduziu em melhorias dentro do campo. Apesar de terem aberto os cordões à bolsa, a estratégia de terem gasto tanto dinheiro em apenas três jogadores veio a revelar-se fatal para o clube. O plantel continuou desequilibrado e com poucas soluções. Romagnoli e Bacca foram bons reforços que pegaram logo de estaca, já Bertolacci pode ser considerado como um dos flops da temporada. A abordagem de Sinisa Mihajlovic não foi perfeita, mas a equipa parecia estar a caminhar numa certa direcção (que podia não ser a direcção certa, mas pelo menos era uma direcção). Até que, depois de uma derrota por 2-1 frente à Juventus, onde o Milan rubricou uma das melhores exibições colectivas em toda a época, Mihajlovic foi demitido. Christian Brocchi foi chamado da Primavera para pegar na equipa principal, mas não conseguiu fazer nada da equipa. 2 vitórias em 6 jogos e a Liga Europa perdida para o Sassuolo. Nem a final da Taça serviu para limpar o sabor amargo da derrota. Mais um falhanço de Galliani, mais uma página negra na história do Milan. Apesar de Bacca e Giacomo Bonaventura terem sido os destaques entre os jogadores de campo, foi Gianluigi Donnarumma que fez os adeptos Rossoneri voltar a sonhar. O jovem de 17 anos roubou a titularidade a Diego López e não mais a largou. O futuro chegou mais cedo para o esguio guarda-redes do Milan que deslumbrou com os seus reflexos e agilidade acima da média.
Tão ou mais decepcionante que o Milan foi a Lazio. O Milan registou a sua pior temporada de sempre em 2014/15. A Lazio, uma das melhores. Os Biancocelesti terminaram num honroso terceiro lugar a praticar futebol do mais atraente que se via na península. As expectativas eram enormes. As grandes figuras da época passada tinham-se mantido: Stefan De Vrij, Lucas Biglia, Felipe Anderson, Antonio Candreva e até o treinador, Stefano Pioli. Mas correu tudo ao contrário. Começou logo mal no defeso. A equipa não reforçou o que devia. Conseguiu atrair jovens promissores, como Sergej Milinkovic-Savic e Ricardo Kishna, mas para posições que não precisavam de ser reforçadas. A grande pecha da equipa, a defesa, permaneceu inalterada. Tudo piorou com a lesão de De Vrij que o deixou de fora do resto da temporada. A Lazio nunca recuperou desse golpe. Em 36 jogos sem o central holandês, os Biancocelesti sofreram 51 golos. O ataque não provou ser muito melhor, marcando menos 19 golos do que na época transacta. Antonio Candreva foi o único que manteve o seu nível habitual, se bem que sem a produção de outros anos. A desilusão da época foi, sem margem para dúvidas, Felipe Anderson, a milhas de distância do jogador genial que foi em 2014/15. Eventualmente, Lotito perdeu a paciência e demitiu Pioli depois da derrota por 4-1 no Derby della Capitale, o resultado mais pesado dos últimos 14 anos. Simone Inzaghi foi promovido à equipa principal e restabeleceu alguma da honra perdida e, mais importante, deu uma despedida digna a Miroslav Klose.
Talvez não tenha havido maior desilusão esta época do que as equipas de Génova. Sampdoria e Génova passaram de namorar a Europa para a luta pela manutenção. Os Bluecerchiati não podiam ter começado pior, com eliminação humilhante da Liga Europa às mãos do modesto Vojvodina. Ficou estabelecido o tom para o resto da temporada. Desde cedo se percebeu que Walter Zenga não era o homem indicado para o cargo. Vincenzo Montella chegou como salvador da pátria, mas não fez melhor. Com Montella, a Sampdoria fez menos de um ponto por jogo e terminou com 18 derrotas, 10 a mais do que na época passada. Tanto Zenga como Montella experimentaram vários sistemas e vários onzes, sem resultados. Os buracos deixados por Stefano Okaka, Pedro Obiang e Eder a meio da temporada nunca foram tapadas. No Génova, as expectativas não eram tão grandes, mas ainda assim os Grifone sofreram mais do que aquilo que deviam. Um série de cinco derrotas consecutivas entre Dezembro e Janeiro deixou a equipa de Gian Piero Gasperini em maus lençóis. A lesão de Mattia Perin não ajudou. Ainda assim, Gasperini fez um trabalho positivo. Perdeu Andrea Bertolacci, Iago Falque, Juraj Kucka, Diego Perotti e ainda conseguiu terminar na 11ª posição, acima dos seus rivais. Suso e Alessio Cerci foram os jogadores que mais beneficiaram do convívio com o treinador italiano. Por agora, Gasperini evitou o pior, mas o Génova precisa de se reforçar bastante se quer voltar ao nível de 2014/15.
[next]AS SURPRESAS
No Sarri, no party? Not so fast. O Empoli mostrou que era muito mais do que Maurizio Sarri ao fazer ainda melhor na época em que o treinador italiano trocou a Toscana por Nápoles. Os Azzurri não perderam só o treinador. Viram partir também Luigi Sepe, Daniele Rugani, Elseid Hysaj, Mirko Valdifiori e Matías Vecino. Mesmo assim, o Empoli terminou o campeonato na 10ª posição com mais 4 pontos conquistados do que na época transacta. Poderiam ter sido mais não fosse a equipa ter tirado o pé do acelerador quando garantiu matematicamente a promoção. Tudo começou com uma escolha surpreendente para substituir Sarri: Marco Giampaolo, na altura treinador do Cremonese de Lega Pro. Giampaolo reconstruiu a equipa, mas assentou a sua obra nas fundações sólidas deixadas por Sarri, principalmente o seu 4-3-1-2. Já os interpretes desse sistema foram outros, o que mudou o sistema em si. Na baliza, Skorupski, emprestado pela Roma. A linha defensiva composta por Mário Rui, Andrea Costa, Tonelli e Laurini. No meio-campo, três caras novas atrás de Saponara: Leandro Paredes, Piotr Zielinski (apesar de não ser uma nova aquisição, jogava pouco com Sarri) e Marcel Buchel. Na frente, Maccarone e Pucciarelli com as duas referências. A ideia de jogo manteve-se. Bloco subido, pressão alta, posse de bola e combinações rápidas. A grande alteração em relação ao modelo de Sarri acabou por ser a adaptação de Paredes ao papel de regista. Giampaolo apostou primeiro em Assane Diousse, com excelentes resultados, mas o médio argentino trouxe uma qualidade na posse que o senegalês nunca conseguiria dar. A diferença entre Valdifiori e Paredes fez deste Empoli mais perigoso do que o de Sarri. Os passes longos de Valdifiori eram excepcionais, mas muito menos eficazes que os passes verticais, pelo chão, de Paredes. Assim se justifica um Empoli mais controlador dos vários momentos do jogo, mesmo em partidas contras os gigantes do futebol italiano.
O Chievo entrou para esta época com o pensamento apenas na manutenção. A equipa vinha de uma época estranha, em que garantiu a permanência e teve a 4ª melhor defesa do campeonato, mas apresentando um futebol pobre no ataque. A defesa manteve-se, só perdendo Ervin Zukanovic, e conseguiu resultados semelhantes, sofrendo apenas mais dois golos que a época transacta. Mas o resto da equipa mudou e muito. Rolando Maran abandonou o 4-4-2, abraçando o 4-3-1-2. Paul-Jose Mpoku e Valter Birsa alternaram no papel de trequartista, nas costas de Riccardo Meggiorini e Roberto Inglese (titular depois da saída de Alberto Paloschi em Janeiro). A dinâmica que Maran conseguiu imprimir a estas três posições melhorou (e de que maneira) a produção ofensiva dos Mussi Volanti, que marcaram mais 15 golos do que na época passada. Mesmo com lesões em jogadores importantes durante várias fases do campeonato, o Chievo terminou num confortável 9º lugar, no mesmo ano em que viu o Hellas Verona descer à Serie B.
Por último, destacamos a única das equipas promovidas a garantir a manutenção: o Bolonha. Era claro à partida que o Bolonha era a equipa mais bem preparada das que tinham subido para sobreviver aos rigores da Serie A, mas as coisa não começaram nada bem. Delio Rossi perdeu 8 dos primeiros 10 jogos e foi substituído por Roberton Donadoni. Foi aí que começou a época do Bolonha. O efeito "Donadoni" fez-se sentir logo no primeiro jogo, uma goleada por 3-0 à Atalanta. Nos primeiros 11 jogos com o antigo treinador do Parma, os Felsinei ganharam 7 (incluindo vitórias sobre o Nápoles e o Milan) e dispararam na classificação. Empataram também com Roma e Lazio e foram a equipa que pôs um fim à serie de 26 vitórias consecutivas da Juventus. Tal como o Empoli, o Bolonha desacelerou e caiu para o 14º lugar da tabela nas últimas jornadas, altura em que sentiu falta do seu melhor marcador, Mattia Destro, de fora por lesão. Ainda assim, esta foi uma temporada bastante positiva de uma equipa que regressou à Serie A para ficar.
[next]OS DESPROMOVIDOS
As duas estreantes no escalão máximo do Calcio não resistiram à sua primeira época no convívio dos gigantes e foram despromovidas. Carpi e Frosinone venderam bem cara a despromoção e lutaram até à última por um lugar na Serie A. Já o terceiro despromovido e último classificado do campeonato, o Hellas Verona, não pode retirar nada de bom desta temporada. 2015/16 foi um autêntico pesadelo para os Gialloblue.
CARPI: O Carpi foi a feel good story do final da época passada. Um pequeno clube dos arredores de Roma chegava à Serie A depois ser campeão da Serie B contra todos os prognósticos. No entanto, havia receio que esta se torna-se uma situação equivalente à do Pescara em 2012/12, uma equipa a jogar tão acima do seu nível que acabou por desvirtuar a competição. Esse receio quase se confirmou, com o Carpi a conseguir apenas 2 vitórias nos primeiros 15 jogos, mas a meio de Fevereiro a equipa deu a volta e encontrou o seu melhor futebol. O melhor Carpi apareceu com o melhor Kevin Lasagna. O jogador com o melhor nome da Serie A foi decisivo em muitos jogos, marcando 5 golos, grande parte deles vindo do banco de suplentes. Só tem 23 anos e é um dos nomes desta equipa que merece encontrar o seu cantinho na Serie A. Depois de ser despedido em Setembro, após uma derrota embaraçosa por 5-1 frente à Roma, Fabrizio Castori foi readmitido e tirou a equipa da zona de despromoção, para onde só voltou a cair a uma jornada do fim. Foi por tão pouco, bastava um ponto. Os Biancorossi ainda conquistaram uma vitória dramática por 2-1 em Udine na última jornada, mas o Palermo também venceu, condenando assim o Carpi à Serie B. Combinando isto com a sua prestação na Taça - o Carpi foi a única equipa da 2ª metade da tabela a chegar aos quartos-de-finais -, esta foi claramente uma época de superação para os Biancorossi, ainda assim insuficiente para se manterem no convívio dos grandes.
FROSINONE: O conto de fadas só durou um ano, mas os Canarini deixaram a sua marca na Serie A. Tiveram a coragem de atacar a primeira divisão basicamente com o mesmo plantel que os fez subir. Pode não ter sido a melhor ideia para garantir resultados, mas revela que o clube tem um projecto e que determinado em segui-lo. Mais importante que tudo isso, tem adeptos magníficos que aplaudiram a equipa do princípio ao fim, incluindo uma demonstração incrível de apoio no jogo em que a despromoção se materializou. Com este tipo de suporte, o Frosinone não demorará muito a regressar ao principal escalão do futebol italiano. No fim, a coragem do Frosinone acabou por ser a sua desgraça. O não ter reforçado o plantel custou caro, principalmente a nível defensivo. Enquanto Daniel Ciofani e Federico Dionisi foram uma das duplas de avançados mais produtivas da Serie A, a defesa dos Canarini foi a pior do campeonato (76 golos sofridos). Sofreram goleadas humilhantes, por exemplo o 5-1 contra o Chievo, mas nunca desistirem de Roberto Stellone nem da sua ideia de jogo. O Frosinone foi para a guerra com armas de plástico. Não for por isso que deixou de dispara. A sua persistência no futebol directo, com dois pontas-de-lança, sempre à procura do golo, pode não ter dado a manutenção, mas merece o respeito de todos.
HELLAS VERONA: Os Gialloblu terminaram a época 2014/15 em 13º lugar. Nada de extraordinário, mas foi uma temporada segura com a manutenção a ser garantida muito cedo. Até deu para Luca Toni ser o Capocannoniere aos 38 anos. Nada faria prever o que aconteceu a seguir. À sexta jornada, o Hellas caiu para o último lugar da classificação, de onde não saiu mais até ao fim do campeonato. 2015 acabou e o Hellas ainda não tinha qualquer vitória conquistada. A primeira só veio em Fevereiro no Derby della Lanterna. Já com o caminho traçado para a Serie B, os Gialloblu ainda deram um último ar de sua graça ao vencerem os eventuais campeões, a Juventus. A vitória em nada alterou a classificação da equipa, mas pelo menos serviu como uma honrosa despedida de Luca Toni aos relvados. O avançado pendurou as botas, mas vai continuar ligado ao clube, agora como director, e vai procurar devolvê-lo à Serie A o mais rapidamente possível.
GIANLUIGI BUFFON
Todas as palavras são poucas para falar de "Gigi" Buffon. Craque aos 38 anos, craque toda a vida. Nasceu para parar remates e é isso que continua a fazer. Capitaneou o campeão, foi crucial no momento de viragem e ainda arranjou tempo para dominar a liga estatisticamente. Buffon fez 3.94 defesas por cada golo sofrido, muito à frente do segundo classificado (Handanovic com 2.67). Para além de ser decisivo entre os postes, Buffon ajudou a sua equipa quando tinha a bola, sendo uma válvula de escape para defesas em apuros. Os seus 81% de passes completos só foram ultrapassados por Pepe Reina (82%). Ele é sem dúvida o melhor guarda-redes da Serie A, um dos melhores do Mundo e da história do futebol.
ELSEID HYSAJ
O albanês do Nápoles é o lateral direito mais completo a actuar na Serie A. Bruno Peres, Alessandro Florenzi e Sime Vrsaljko também se destacaram na posição, mas nenhum deles é o pacote completo que é Hysaj. Bruno Peres é um dribler, perfeito para o 3-5-2 do Torino. Florenzi e Vrsaljko são jogadores de técnica apurada, ideias para apoiar um meio-campo que goste de jogar em posse. Já Hysaj, apesar de ser o mais tecnicamente limitado do grupo, apresenta um pouco de tudo. É rápido, forte e determinado. Defensivamente, é um dos melhores laterais do futebol europeu. Este ano melhorou bastante ao nível do passe e revelou boa visão de jogo. Não é de ir à linha cruzar, mas tem olho para identificar as desmarcações em profundidade dos extremos e colocar lá a bola. Foi um dos jogadores que Sarri insistiu em trazer do Empoli e percebemos agora porquê.
LEONARDO BONUCCI
Bonucci não tem nenhuma das características físicas que atribuímos aos grandes centrais. Não é propriamente alto, não é propriamente forte, não é propriamente rápido. Lê o jogo dois segundos antes de toda a gente, o que lhe permite um posicionamento quase imaculado. Por esta altura, Bonucci é um central totalmente desenvolvido, tanto à vontade numa defesa a três como a quatro. Mas é no 3-5-2 que ele brilha. No meio dos outros dois centrais, Bonucci orquestra a primeira fase de construção que, graças à sua qualidade de passe longo, muitas vezes queima várias linhas do adversário. É ele agora o regista da Juventus, na ausência de Andrea Pirlo. Menção honrosa para Kostas Manolas, um defesa que dá gosto ver defender, mas não tão confortável com a bola nos pés como Bonucci.
FRANCESCO ACERBI
O exacto oposto de Bonucci, um homem montanha que usa o seu físico para dominar os adversários. Acerbi fez parte da quarta melhor defesa do campeonato, um registo incrível para uma equipa como o Sassuolo que, na sua época de estreia tinha sido a segunda pior defesa e no ano passado a quinta. Acerbi esteve intimamente ligado a essa melhoria. Depois de não singrar no Milan e de ter vencido o cancro em 2014, Acerbi regressou aos campos e tornou-se num líder de balneário para os Neroverdi. Como jogador, Acerbi junta duas qualidades que o tornam num defesa tão difícil de lidar. Sabe como defender na área e é uma carraça na marcação. Não tem velocidade, nem agilidade, por isso compensa com a sua agressividade na marcação, não deixando o adversário sequer levantar a cabeça do chão depois de receber a bola, mas sem cometer falta. É também um perigo nas bolas paradas, onde marcou 4 golos este ano. Kalidou Koulibaly foi a outra força da natureza a aterrorizar os avançados por essa Itália fora, mas Acerbi leva vantagem pelo que fez num clube de pequena dimensão.
ALEX SANDRO
Alex Sandro nunca foi um titular indiscutível na Juventus, alternando sempre com Patrice Evra. O lateral francês tem um peso no balneário que Alex Sandro não tem e provavelmente nunca terá, mas no campo foi superior ao seu colega de equipa em todos os aspectos e dominou a liga estatisticamente. Em organização ofensiva, não há outro lateral esquerdo na Serie A que possa oferecer tanto como ele. A sua velocidade e resistência permite-lhe fazer o corredor todo e até emendar alguns erros de posicionamento. No último terço, é perigoso no um-para-um e no cruzamento. Foi o lateral com mais key passes na Serie A (2.27 por jogo), a uma distância enorme de Marcos Alonso (1.5). Também liderou em golos e assistências por jogo. O lateral espanhol merece uma referência especial pelo papel que teve no sistema bastante fluido de Paulo Sousa. Quer como médio ala num 3-4-2-1, quer como defesa lateral num 4-4-2, Alonso nunca pareceu deslocado e maravilhou com o seu magnífico pé esquerdo.
JORGINHO
A posição de médio defensivo na Serie A está recheada de jogadores de qualidade, todos com uma interpretação diferente do seu papel em campo. Claudio Marchisio, Leandro Paredes, Francesco Magnanelli e Milan Badelj foram os expoentes máximos da posição esta temporada, com estilos muito diferentes, mas o melhor foi Jorginho. Depois de não ter maravilhado no 4-2-3-1 de Benitez, o médio italo-brasileiro encontrou a sua casa táctica no 4-3-3 de Sarri, relegando Mirko Valdifiori para o banco, o homem que Sarri tinha trazido do Empoli especificamente para desempenhar este papel. Jorginho é o jogador com mais passes completos por jogo nas Big 5 (102.6), a uma grandes distância do segundo. Isso acontece porque Jorginho está em constante movimento, sempre oferecendo uma linha de passe aos colegas. Quando recebe a bola, não se demora muito com ela. Joga simples e rápido para permitir que o jogo da equipa flua por ele. Mas essa simplicidade não afecta a sua objectividade. Jorginho é o médio com mais assistências para golo na Serie A.
MIRALEM PJANIC
Apesar da Roma se ter transformado, com um novo treinador e novas caras a partir do mercado de inverno, uma coisa permaneceu igual: a influência de Miralem Pjanic. Pelo segundo ano consecutivo, o bósnio terminou com dois dígitos em assistências (10 no ano passado, 12 no presente), mas dobrou o seu número de golos, passando de 5 para 10. Ele, Pogba e Insigne foram os únicos a passarem os dois dígitos em golos e assistências. A consistência, sempre apontada como um defeito no seu jogo, parece crescer cada vez mais com a idade. É nesta altura um dos melhores marcadores de livres do futebol europeu. Piotr Zielinski (Empoli) e Allan (Nápoles) tinham também lugar neste onze, não fosse a mestria do bósnio da Roma. A capacidade de pressão do brasileiro foi fundamental para fazer funcionar o meio-campo do Nápoles e o Polaco renasceu num novo papel, agora como médio mais recuado, sendo já pretendido pelos gigantes da Europa.
PAUL POGBA
Não foi o salto que todos esperavam, mas ainda assim a época de 2015/16 não deixa de ser uma de grande sucesso para o médio francês. Durante períodos largos da temporada, Pogba demonstrou um poder quase omnipotente, apagando qualquer vestígio do adversário. Noutros jogos, não se deu por ele. Devido à reconstrução que sofreu o miolo da Vecchia Signora, foi pedido mais a Pogba do que em qualquer outra altura da sua carreira. O francês foi médio defensivo, foi regista, foi box-to-box, foi trequartista. Foi aquilo que a equipa precisou dele a cada jogo. A sua ligação táctica e técnica com Paulo Dybala, e numa fase posterior na época com Alex Sandro, foram elementos fundamentais para a recuperação histórica dos Bianconeri. Marek Hamsik foi único que se chegou perto do francês. Mais recuado, sem jogar tanto de costas para a baliza, o eslovaco pôde jogar o seu jogo de penetrações, com e sem bola, terminando com 6 golos, 11 assistência e 94 key passes.
LORENZO INSIGNE
Pequeno Superhomem de Nápoles foi crucial na boa campanha do Partenopei. Fez parte de uma asa esquerda demolidora, com Ghoulam e Hamsik. Perdeu um pouco de gás nas últimas jornadas, mas ainda assim registou máximos de carreira em golos e assistências (12 golos e 10 assistências). O baixo centro de gravidade permite-lhe mudar de direcção numa questão de milissegundos, o que faz com que seja muito difícil de apanhar quando se apanha em velocidade. Começou com trequartista quando Sarri tentou aplicar o seu 4-3-1-2, mas a equipa ficava um pouco desequilibrada. Encontrou o seu lugar no lado esquerdo do tridente ofensivo do 4-3-3 e, com os seus movimentos interiores, acabou por conseguir explorar os mesmos espaço. Há coisas que pode melhorar, uma delas o excesso de tentativas de remates fora da área.
PAULO DYBALA
O mágico argentino entra para esta equipa, sem a menor das dúvidas. Dybala superou todas as expectativas, fazendo os adeptos Bianconeri esquecerem rapidamente Carlos Tévez. Aliás, a sua primeira época aos serviço da Juventus foi melhor do que a do Apache. Dybala resolveu um dilema táctico importante a Allegri. Foi ele que promoveu com mais intensidade e qualidade a ligação entre o meio-campo e o ataque. A sua capacidade de encontrar o espaço entre-linhas, de usar depois o seu drible para explorar esse espaço, destruiu defesas. Juntando a isso, a sua técnica perfeita de passe e remate deram-nos algumas das melhores assistências e golos da temporada. Aos 22 anos, só pode melhorar. Este sim, é o mini-Messi.
GONZALO HIGUAÍN
Não se pode deixar o Capocannoniere de fora desta lista, ainda mais um que quebrou um recorde com 66 anos. Gonzalo Higuaín tornou-se no jogador com mais golos numa temporada ao marcar 36 golos em 35 jogos, quebrando o recorde de Gunnar Nordahl. Terminou com uma vantagem de 17 golos para o segundo melhor marcador da liga. Higuaín beneficiou de uma equipa toda virada para o ataque, mas o argentino foi implacável na maioria dos jogos. Dava a ideia que podia marcar de qualquer sítio. Nenhum golo demonstrou isso tão bem como o do recorde. Higuaín chegou à última jornada a 2 golos de empatar o registo de Nordahl. Frente ao Frosinone, Higuaín marcou três, o seu primeiro e único hat-trick da temporada. Já a caminhar para o fim da partida, Mertens colocou uma bola na área. Higuaín parou com o peito, mas a bola fugiu um pouco do seu corpo. Ficou bem ao jeito do seu pé. Num remate acrobático, que poucos acharam possível, Higuaín marcou o melhor golo do campeonato e fez história ao mesmo tempo.
[next]O GOLO
AS DISTINÇÕES
Campeão: Juventus
Vencedor da Taça: Juventus
Liga dos Campeões: Nápoles e Roma
Liga Europa: Inter, Fiorentina e Sassuolo
Equipas despromovidas: Carpi, Frosinone e Hellas Verona
Equipas promovidas da Serie B: Cagliari, Crotone e Pescara
Equipa sensação: Empoli
Equipa desilusão: Milan
Melhor ataque: Roma (83 golos)
Pior ataque: Bolonha (33 golos)
Melhor defesa: Juventus (20 golos)
Pior defesa: Frosinone (76 golos)
Melhor marcador: Gonzalo Higuaín (Nápoles) - 36 golos
Melhor assistente: Paul Pogba (Juventus) e Miralem Pjanic (Roma) - 12 assistências
Melhor jogador para o PD: Leonardo Bonucci (Juventus)
Melhor jovem jogador para o PD: Gianluigi Donnarumma (Milan)
Revelação para o PD: Kalidou Koulibaly (Nápoles)
Desilusão para o PD: Felipe Anderson (Lazio)
Melhor treinador para o PD: Massimiliano Allegri (Juventus)
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[next]NÁPOLES TÃO PERTO DO SONHO
Apesar do título ter fugido no fim, esta foi uma época fenomenal por parte do Nápoles. As expectativas não podiam ser mais baixas. A venda de bilhetes caiu a pique, de tal maneira que em Agosto só o Carpi tinha vendido menos bilhetes de época. O novo treinador, Maurizio Sarri, que há pouco tempo trabalhava na banca, chegava ao Nápoles por ter alcançado a manutenção com o Empoli na época passada e foi publicamente colocado em causa pela maior lenda do clube. Maradona achava que Sarri não era o homem certo para levar o Nápoles à Liga dos Campeões. Sarri não só qualificou o Nápoles para a maior competição do futebol europeu com relativa facilidade, como esteve muito perto do título e praticou o melhor futebol que se viu na liga italiana este ano. Em alguns períodos, esta equipa foi estupenda, vencendo por 4 golos ou mais em 8 ocasiões diferentes. O seu brilhantismo fez acreditar no Scudetto, mas o 2º lugar já foi um resultado acima do esperado. Em relação à época passada, o Nápoles fez mais 19 pontos e praticou um futebol 100 vezes mais atraente.
Se olharmos para os números, eles mostram-nos o domínio da Juventus sobre toda a Serie A. Remates realizados, remates concedidos, remates à baliza, nisto tudo a Juventus esteve por cima de todos, menos de uma equipa: o Nápoles. A equipa de Sarri só não foi melhor nos remates concedidos, permitindo mais 4 do que os Bianconeri. O seu diferencial de remates à baliza por jogo foi de +4.08, o segundo melhor registo na Serie A desde 2006/07, só ultrapassado pela Juventus de 2011/12 (+4.16). Ou seja, em média, o Nápoles fez mais 4.08 remates à baliza que o seu adversário. Isto demonstra bem a capacidade do Partenopei esta temporada. O Nápoles bateu o seu recorde de pontos conquistados (82) e golos marcados (80). Estiveram na liderança isolada durante 7 jornadas, algo que não acontecia desde a era de Maradona. Fizeram do San Paolo fortaleza e terminaram a época invictos em casa (16 vitórias e 3 empates), feito apenas igualado nas Big 5 pelo Borussia Dortmund. Sarri melhorou a equipa em todos os sectores e sem grandes contratações que o ajudassem.
Do onze habitual, só Pepe Reina, Elseid Hysaj e Allan foram caras novas. Todos os outros foram aproveitados por Sarri e todos eles tiveram um ano incomparavelmente melhor ao anterior. Na defesa, fez o que parecia impossível: tornar Raúl Albiol e Kalidou Koulibaly numa dupla de centrais eficaz. Retirando um ou outro lapso de Albiol, a defesa do Nápoles funcionou muito bem, com Koulibaly a subir bastante a sua cotação no mercado. Nas laterais, Hysaj foi um imenso upgrade ao que o Nápoles tinha anteriormente e Ghoulam fez uma das melhores épocas da sua carreira. Mas foi no meio-campo que Sarri fez a sua magia. Mesmo tendo trazido Mirko Valdifiori do Empoli, Sarri acabou por encontrar um solução melhor no plantel do Nápoles: Jorginho. Juntamente com Allan e Marek Hamsik, o brasileiro formou um tridente dinâmico e eficiente em todas as fases do jogo. Jorginho marcou o ritmo, Allan imprimiu a velocidade e Hamsik, jogando mais recuado do que noutras épocas, teve muito mais influência sobre o jogo da sua equipa, terminando com 6 golos e 11 assistências. Nas alas, José Callejón e Lorenzo Insigne tiveram épocas de sonho, particularmente o italiano que chegou a ser o melhor jogador a actuar na Serie A durante certos períodos da temporada. E como esquecer o homem-golo, o quebra-recordes e melhor marcador do campeonato, Gonzalo Higuaín. No fim, faltou a profundidade que tem a Juventus, a possibilidade de tirar da cartola um Cuadrado, um Alex Sandro, um Zaza que foram essenciais em alguns jogos mais complicados. Os onze jogadores preferidos por Sarri jogaram 88% dos minutos, comparando com 68% do lado da Juventus. Na fase final da época, isso fez a diferença.
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[next]COMO LUCIANO SPALLETTI CONCERTOU A ROMA
Depois de uma época de 2014/15 decepcionante, onde mais uma vez a Roma perdeu o Scudetto para a Juventus, o Presidente James Pallotta decidiu reconduzir Rudi Garcia no cargo. A campanha não podia ter começado melhor. À 10ª jornada, sentava-se confortavelmente na liderança com 11 pontos de vantagem sobre os Bianconeri. No entanto, os problemas de base da equipa mantinham-se e revelaram-se todos a partir do final de Novembro. Tudo começou num empate a dois com o Bolonha a 21 desse mês. A Roma só voltaria a ganhar um mês depois, por 2-0 ao Génova. Mas foi só um jogo. Os Giallorossi só voltaram a conquistar duas vitórias consecutivas em Fevereiro deste ano, já com Luciano Spalletti no comando. Pelo caminho, ficaram uma série de 7 jogos para todas as competições sem ganhar, incluindo uma humilhante derrota por 6-1 com o Barcelona a contar para a Liga dos Campeões e uma eliminação histórica da taça às mãos do Spezia. Garcia, já fragilizado da época passada, não resistiu a este período negro. Spalletti foi o escolhido para o suceder.
Nem toda a gente ficou convencida com a escolha do antigo treinador do Zenit. Spalletti já tinha treinado a Roma entre 2005 e 2009 e saiu abruptamente em rota de colisão com as duas principais figuras do clube, Francesco Totti e Daniele De Rossi. No entanto, o treinador italiano encetou uma recuperação extraordinário que permitiu à Roma terminar a época no terceiro lugar. Até às últimas jornadas sonharam com o segundo. Só a Juventus conquistou mais pontos do que a Roma na segunda metade do campeonato. Qualquer número que se olhe melhorou com Spalletti. A equipa começou a rematar mais (14.4 por jogo com Garcia, 16.3 com Spalletti), a acertar mais na baliza (1.9 golos por jogo com Garcia, 2.5 com Spalletti) e a conceder menos golos (1.2 com Garcia, 1 com Spalletti). A única pedra no caminho foi a sua parca utilização de Totti que deixou os adeptos contra si, apesar dos resultados positivos, mas até isso virou uma força da equipa. Spalletti provou que, nesta fase da sua carreira, Totti é uma arma muito mais eficaz vindo do banco, para ajudar a resolver um jogo complicado, em vez de lhe estar a ser pedido um esforço contínuo durante 90 minutos.
Mas Spalletti não foi a única face da mudança da Roma. O treinador italiano beneficiou de um janela de transferência de inverno muito bem sucedida por parte de Walter Sabatini, ao contrário do que tinha acontecido no verão. O director desportivo dos Giallorossi pescou Diego Perotti e Stephan El Shaarawy, dois jogadores que se tornaram fundamentais para a nova Roma. Spalletti abandonou o flop Edin Dzeko e montou um tridente ofensivo bastante móvel, com El Saarawy e Mohamed Salah nas alas e Perotti no meio. A fluidez do ataque da Roma maravilhou em alguns jogos. Perante a constante movimentação dos homens da frente, as defesas contrárias tinham muitas dificuldades para acertar as marcações. Perotti contribuiu com 0.52 assistências e 3.36 dribles por 90 minutos. El Shaarawy foi o mais rematador dos três, com 3.77 remates por 90 minutos, e fez mais do que suficiente para justificar a activação da opção de compra. Nos últimos 19 jogos da época, este trio foi responsável por 9 golos e 6 assistências.
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[next]O COLAPSO DOS DOIS PRIMEIROS LÍDERES: INTER E FIORENTINA
O início de temporada prometeu muito, mas tanto o Inter como a Fiorentina enfrentaram violentos reality checks. A queda do Inter na segunda metade do campeonato era das coisas mais fáceis de prever no futebol europeu. A equipa de Roberto Mancini chegou ao final do ano de 2015 na liderança, graças à melhor defesa do campeonato que sofreu apenas 11 golos nos primeiros 17 jogos, mas viam-se de longe as fragilidades do sistema Nerazzurri. Na primeira volta, Samir Handanovic defendeu 85.5% dos remates que enfrentou, desempenho admirável, mas certamente insustentável. De facto, a percentagem caiu até aos 72.2% até ao final da temporada e o Inter caiu também na classificação. Na primeira volta, Handanovic registou 12 jogos sem sofrer golos. Na segunda, apenas 3. E isto não é criticar a performance do guarda-redes esloveno, uma das melhores unidades dos Nerazzurri. Interessa antes perceber que o sucesso do Inter era baseado numa dependência excessiva na sua eficácia defensiva e numa momento de forma insustentável do seu guarda-redes. Quando isso parou e Handanovic regressou ao normal, o ataque do Inter não foi capaz de acompanhar essa queda.
Contudo, não devemos deixar de congratular o dois novos baluartes da defesa de Mancini e duas das contratações do ano na Serie A: Murillo e Miranda. A nova dupla de centrais deu-se bem desde o primeiro dia e foram a base para a eficácia defensiva do Inter. No entanto, para a frente as coisa foram mais complicadas. O meio-campo muito defensivo (muitas vezes com Gary Medel e Filipe Melo em campo ao mesmo tempo) partiu a equipa. Geoffrey Kondogbia nunca teve a confiança de Mancini e só quando Marcelo Brozovic ganhou o seu espaço é que a equipa começou a ligar melhor o jogo. No ataque, foi tudo muito feito à base das individualidades. Muita confusão nas movimentações e com pouca ou nenhuma organização. Muitas vezes ninguém ocupava o espaço nas costas de Icardi. Stevan Jovetic e Adem Ljajic, dos poucos no plantel do Inter com capacidade para criar oportunidades de golo para si e para os outros, foram muitas vezes relegados para o banco. Salvou-se Ivan Perisic, que esteve intratável desde o início do ano. Mas mais uma vez, tudo devido à sua qualidade individual e não à organização colectiva.
A queda da Fiorentina teve outra origem, mas também era relativamente fácil de prever. Ao contrário do Inter, os Viola beneficiaram de um tremendo arranque de temporada de Nikola Kalinic, também ele insustentável. Quando a fonte de golos do croata secou, a Fiorentina começou a empatar muitos jogos e isso teve um efeito nefasto na sua classificação. Paulo Sousa colocou a equipa de Florença a jogar um futebol atractivo, de posse, mas com maior verticalização do que o seu antecessor, Vincenzo Montella, mas no fim acabou por sofrer do mesmo problema: pouca penetração. Com jogadores como Borja Valero e Matias Vecino, a Fiorentina nunca teve dificuldades em construir. O seu controlo sobre a bola e sobre o jogo chegou a sufocar muitos adversários, mas faltava o último passe. Faltou um guarda-redes mais consistente e também maior profundidade no plantel para lidar com uma campanha prolongada na Liga Europa. No global, esta foi uma época bastante positiva de Paulo Sousa que fez os adeptos Viola sonhar, mesmo com uma equipa inferior em qualidade e em soluções em relação à época passada. Para dar mais, esta Fiorentina precisa de reforços.
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[next]O MILAGRE DO SASSUOLO
O Sassuolo terminou a época sem saber se o milagre se tinha dado. Precisou de esperar até ao desfecho da final da Taça de Itália, que a Juventus venceu no prolongamento, para puder festejar um feito histórico. A derrota do Milan significava que os Neroverdi se apuraram pela primeira vez para uma competição europeia na sua terceira época na Serie A. As ascensão meteórica do Sassuolo pela pirâmide do futebol italiano - subiram da quarta divisão à primeira em oito anos - continua na Serie A. Na primeira época, garantiram a manutenção contra todos os prognósticos com 34 pontos. Na segunda, ficaram em 12º lugar com 49 pontos. Este época, fizeram 7º com 61 pontos e uma presença garantida na Liga Europa. Ano após ano, o Sassuolo prova o que se pode fazer com uma gestão bem planeada, estabilidade e um bom treinador. Um modelo a seguir por todos.
Com um plantel sem grandes alterações em relação à época passada, exceptuando a saída de Simone Zaza, esta conquista explica-se com um misto de mérito próprio e demérito da concorrência. Os Neroverdi beneficiaram de épocas negativas dos habituais candidatos aos lugares europeus (Milan, Lazio, Torino), principalmente da queda abrupta dos clubes de Génova. No entanto, o Sassuolo teve a virtude de ser uma equipa consistente, conquistando 31 pontos na primeira volta e 30 na segunda, o que se enquadra bem com a estratégia do clube. Depois de uma época de afirmação no panorama do futebol italiano, a equipa podia ter decidido lucrar e desmantelar o plantel, mas não o fez. Manteve a aposta nos mesmos jogadores, maioritariamente italianos e jovens, e deu a Eusebio Di Francesco toda a serenidade para fazer o seu trabalho. Em nenhuma outra época se notou mais a mão do treinador. Já todos conhecíamos o talento que esta equipa tem do meio-campo para frente. Mesmo perdendo Zaza, o Sassuolo ainda tem Domenico Berardi e Nicola Sansone, dois dos melhores extremos do campeonato italiano. Gregoire Defrel foi uma excelente adição (o que revela a astúcia do clube no mercado de transferências) e Matteo Politano a grande revelação da temporada, terminado com 5 golos e 2 assistências, muito importante numa fase menos boa de Berardi. Onde esta equipa melhorou bastante foi na defesa, que acabou como a 4ª melhor do campeonato. Francesco Acerbi foi o grande destaque individual. Para além de formar com Paolo Cannavaro, Federico Peluso e Sime Vrsaljko um dos mais sólidos quartetos defensivos da Serie A, Acerbi contribui com 4 golos de bola parada.
Numa equipa que quer ter a bola e sabe o que fazer com ela, não tendo medo que colocar 4 ou 5 homens no ataque, torna-se muito importante ter um homem de equilíbrios, um jogador como Francesco Magnanelli, o coração e a cabeça deste Sassuolo. Magnanelli é um mago das segundas bolas. Não há lance dividido em que ele não chegue à bola primeiro que o adversário. Nos últimos anos tem desenvolvido também as suas capacidade como organizador de jogo, o que o torna num dos melhores interpretes da posição de médio defensivo na Serie A. É um jogador com níveis de concentração altíssimos durante os 90 minutos e que se movimenta mentalmente por todas as fases do jogo como poucos. Esta melhoria não se deveu só às individualidades, partiu do colectivo. Se o Sassuolo era por vezes uma equipa que se desorganizava na sua procura desenfreada pelo golo, agora não. É um colectivo equilibrado, capaz de competir com qualquer equipa e em qualquer situação. Só Juventus, Roma e Nápoles perderam menos jogos que o Sassuolo. Em 14 jogos contra Juventus, Nápoles, Roma, Inter, Fiorentina, Milan e Lazio, os Neroverdi ganharam 7 e perderam apenas 5. Próximo passo? Giorgio Squinzi, o dono do clube, já pensa na Liga dos Campeões.
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[next]AS DESILUSÕES
Começa a ser difícil apontar o Milan como uma desilusão. Infelizmente, este tipo de temporada começa a ser o standard do gigante de Milão. Tal como o Inter, os Rossoneri apostaram forte no reforço (75 milhões de euros só em Carlos Bacca, Alessio Romagnoli e Andrea Bertolacci), mas, ao contrário dos seus rivais, isso não se traduziu em melhorias dentro do campo. Apesar de terem aberto os cordões à bolsa, a estratégia de terem gasto tanto dinheiro em apenas três jogadores veio a revelar-se fatal para o clube. O plantel continuou desequilibrado e com poucas soluções. Romagnoli e Bacca foram bons reforços que pegaram logo de estaca, já Bertolacci pode ser considerado como um dos flops da temporada. A abordagem de Sinisa Mihajlovic não foi perfeita, mas a equipa parecia estar a caminhar numa certa direcção (que podia não ser a direcção certa, mas pelo menos era uma direcção). Até que, depois de uma derrota por 2-1 frente à Juventus, onde o Milan rubricou uma das melhores exibições colectivas em toda a época, Mihajlovic foi demitido. Christian Brocchi foi chamado da Primavera para pegar na equipa principal, mas não conseguiu fazer nada da equipa. 2 vitórias em 6 jogos e a Liga Europa perdida para o Sassuolo. Nem a final da Taça serviu para limpar o sabor amargo da derrota. Mais um falhanço de Galliani, mais uma página negra na história do Milan. Apesar de Bacca e Giacomo Bonaventura terem sido os destaques entre os jogadores de campo, foi Gianluigi Donnarumma que fez os adeptos Rossoneri voltar a sonhar. O jovem de 17 anos roubou a titularidade a Diego López e não mais a largou. O futuro chegou mais cedo para o esguio guarda-redes do Milan que deslumbrou com os seus reflexos e agilidade acima da média.
Tão ou mais decepcionante que o Milan foi a Lazio. O Milan registou a sua pior temporada de sempre em 2014/15. A Lazio, uma das melhores. Os Biancocelesti terminaram num honroso terceiro lugar a praticar futebol do mais atraente que se via na península. As expectativas eram enormes. As grandes figuras da época passada tinham-se mantido: Stefan De Vrij, Lucas Biglia, Felipe Anderson, Antonio Candreva e até o treinador, Stefano Pioli. Mas correu tudo ao contrário. Começou logo mal no defeso. A equipa não reforçou o que devia. Conseguiu atrair jovens promissores, como Sergej Milinkovic-Savic e Ricardo Kishna, mas para posições que não precisavam de ser reforçadas. A grande pecha da equipa, a defesa, permaneceu inalterada. Tudo piorou com a lesão de De Vrij que o deixou de fora do resto da temporada. A Lazio nunca recuperou desse golpe. Em 36 jogos sem o central holandês, os Biancocelesti sofreram 51 golos. O ataque não provou ser muito melhor, marcando menos 19 golos do que na época transacta. Antonio Candreva foi o único que manteve o seu nível habitual, se bem que sem a produção de outros anos. A desilusão da época foi, sem margem para dúvidas, Felipe Anderson, a milhas de distância do jogador genial que foi em 2014/15. Eventualmente, Lotito perdeu a paciência e demitiu Pioli depois da derrota por 4-1 no Derby della Capitale, o resultado mais pesado dos últimos 14 anos. Simone Inzaghi foi promovido à equipa principal e restabeleceu alguma da honra perdida e, mais importante, deu uma despedida digna a Miroslav Klose.
Talvez não tenha havido maior desilusão esta época do que as equipas de Génova. Sampdoria e Génova passaram de namorar a Europa para a luta pela manutenção. Os Bluecerchiati não podiam ter começado pior, com eliminação humilhante da Liga Europa às mãos do modesto Vojvodina. Ficou estabelecido o tom para o resto da temporada. Desde cedo se percebeu que Walter Zenga não era o homem indicado para o cargo. Vincenzo Montella chegou como salvador da pátria, mas não fez melhor. Com Montella, a Sampdoria fez menos de um ponto por jogo e terminou com 18 derrotas, 10 a mais do que na época passada. Tanto Zenga como Montella experimentaram vários sistemas e vários onzes, sem resultados. Os buracos deixados por Stefano Okaka, Pedro Obiang e Eder a meio da temporada nunca foram tapadas. No Génova, as expectativas não eram tão grandes, mas ainda assim os Grifone sofreram mais do que aquilo que deviam. Um série de cinco derrotas consecutivas entre Dezembro e Janeiro deixou a equipa de Gian Piero Gasperini em maus lençóis. A lesão de Mattia Perin não ajudou. Ainda assim, Gasperini fez um trabalho positivo. Perdeu Andrea Bertolacci, Iago Falque, Juraj Kucka, Diego Perotti e ainda conseguiu terminar na 11ª posição, acima dos seus rivais. Suso e Alessio Cerci foram os jogadores que mais beneficiaram do convívio com o treinador italiano. Por agora, Gasperini evitou o pior, mas o Génova precisa de se reforçar bastante se quer voltar ao nível de 2014/15.
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[next]AS SURPRESAS
No Sarri, no party? Not so fast. O Empoli mostrou que era muito mais do que Maurizio Sarri ao fazer ainda melhor na época em que o treinador italiano trocou a Toscana por Nápoles. Os Azzurri não perderam só o treinador. Viram partir também Luigi Sepe, Daniele Rugani, Elseid Hysaj, Mirko Valdifiori e Matías Vecino. Mesmo assim, o Empoli terminou o campeonato na 10ª posição com mais 4 pontos conquistados do que na época transacta. Poderiam ter sido mais não fosse a equipa ter tirado o pé do acelerador quando garantiu matematicamente a promoção. Tudo começou com uma escolha surpreendente para substituir Sarri: Marco Giampaolo, na altura treinador do Cremonese de Lega Pro. Giampaolo reconstruiu a equipa, mas assentou a sua obra nas fundações sólidas deixadas por Sarri, principalmente o seu 4-3-1-2. Já os interpretes desse sistema foram outros, o que mudou o sistema em si. Na baliza, Skorupski, emprestado pela Roma. A linha defensiva composta por Mário Rui, Andrea Costa, Tonelli e Laurini. No meio-campo, três caras novas atrás de Saponara: Leandro Paredes, Piotr Zielinski (apesar de não ser uma nova aquisição, jogava pouco com Sarri) e Marcel Buchel. Na frente, Maccarone e Pucciarelli com as duas referências. A ideia de jogo manteve-se. Bloco subido, pressão alta, posse de bola e combinações rápidas. A grande alteração em relação ao modelo de Sarri acabou por ser a adaptação de Paredes ao papel de regista. Giampaolo apostou primeiro em Assane Diousse, com excelentes resultados, mas o médio argentino trouxe uma qualidade na posse que o senegalês nunca conseguiria dar. A diferença entre Valdifiori e Paredes fez deste Empoli mais perigoso do que o de Sarri. Os passes longos de Valdifiori eram excepcionais, mas muito menos eficazes que os passes verticais, pelo chão, de Paredes. Assim se justifica um Empoli mais controlador dos vários momentos do jogo, mesmo em partidas contras os gigantes do futebol italiano.
O Chievo entrou para esta época com o pensamento apenas na manutenção. A equipa vinha de uma época estranha, em que garantiu a permanência e teve a 4ª melhor defesa do campeonato, mas apresentando um futebol pobre no ataque. A defesa manteve-se, só perdendo Ervin Zukanovic, e conseguiu resultados semelhantes, sofrendo apenas mais dois golos que a época transacta. Mas o resto da equipa mudou e muito. Rolando Maran abandonou o 4-4-2, abraçando o 4-3-1-2. Paul-Jose Mpoku e Valter Birsa alternaram no papel de trequartista, nas costas de Riccardo Meggiorini e Roberto Inglese (titular depois da saída de Alberto Paloschi em Janeiro). A dinâmica que Maran conseguiu imprimir a estas três posições melhorou (e de que maneira) a produção ofensiva dos Mussi Volanti, que marcaram mais 15 golos do que na época passada. Mesmo com lesões em jogadores importantes durante várias fases do campeonato, o Chievo terminou num confortável 9º lugar, no mesmo ano em que viu o Hellas Verona descer à Serie B.
Por último, destacamos a única das equipas promovidas a garantir a manutenção: o Bolonha. Era claro à partida que o Bolonha era a equipa mais bem preparada das que tinham subido para sobreviver aos rigores da Serie A, mas as coisa não começaram nada bem. Delio Rossi perdeu 8 dos primeiros 10 jogos e foi substituído por Roberton Donadoni. Foi aí que começou a época do Bolonha. O efeito "Donadoni" fez-se sentir logo no primeiro jogo, uma goleada por 3-0 à Atalanta. Nos primeiros 11 jogos com o antigo treinador do Parma, os Felsinei ganharam 7 (incluindo vitórias sobre o Nápoles e o Milan) e dispararam na classificação. Empataram também com Roma e Lazio e foram a equipa que pôs um fim à serie de 26 vitórias consecutivas da Juventus. Tal como o Empoli, o Bolonha desacelerou e caiu para o 14º lugar da tabela nas últimas jornadas, altura em que sentiu falta do seu melhor marcador, Mattia Destro, de fora por lesão. Ainda assim, esta foi uma temporada bastante positiva de uma equipa que regressou à Serie A para ficar.
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[next]OS DESPROMOVIDOS
As duas estreantes no escalão máximo do Calcio não resistiram à sua primeira época no convívio dos gigantes e foram despromovidas. Carpi e Frosinone venderam bem cara a despromoção e lutaram até à última por um lugar na Serie A. Já o terceiro despromovido e último classificado do campeonato, o Hellas Verona, não pode retirar nada de bom desta temporada. 2015/16 foi um autêntico pesadelo para os Gialloblue.
CARPI: O Carpi foi a feel good story do final da época passada. Um pequeno clube dos arredores de Roma chegava à Serie A depois ser campeão da Serie B contra todos os prognósticos. No entanto, havia receio que esta se torna-se uma situação equivalente à do Pescara em 2012/12, uma equipa a jogar tão acima do seu nível que acabou por desvirtuar a competição. Esse receio quase se confirmou, com o Carpi a conseguir apenas 2 vitórias nos primeiros 15 jogos, mas a meio de Fevereiro a equipa deu a volta e encontrou o seu melhor futebol. O melhor Carpi apareceu com o melhor Kevin Lasagna. O jogador com o melhor nome da Serie A foi decisivo em muitos jogos, marcando 5 golos, grande parte deles vindo do banco de suplentes. Só tem 23 anos e é um dos nomes desta equipa que merece encontrar o seu cantinho na Serie A. Depois de ser despedido em Setembro, após uma derrota embaraçosa por 5-1 frente à Roma, Fabrizio Castori foi readmitido e tirou a equipa da zona de despromoção, para onde só voltou a cair a uma jornada do fim. Foi por tão pouco, bastava um ponto. Os Biancorossi ainda conquistaram uma vitória dramática por 2-1 em Udine na última jornada, mas o Palermo também venceu, condenando assim o Carpi à Serie B. Combinando isto com a sua prestação na Taça - o Carpi foi a única equipa da 2ª metade da tabela a chegar aos quartos-de-finais -, esta foi claramente uma época de superação para os Biancorossi, ainda assim insuficiente para se manterem no convívio dos grandes.
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FROSINONE: O conto de fadas só durou um ano, mas os Canarini deixaram a sua marca na Serie A. Tiveram a coragem de atacar a primeira divisão basicamente com o mesmo plantel que os fez subir. Pode não ter sido a melhor ideia para garantir resultados, mas revela que o clube tem um projecto e que determinado em segui-lo. Mais importante que tudo isso, tem adeptos magníficos que aplaudiram a equipa do princípio ao fim, incluindo uma demonstração incrível de apoio no jogo em que a despromoção se materializou. Com este tipo de suporte, o Frosinone não demorará muito a regressar ao principal escalão do futebol italiano. No fim, a coragem do Frosinone acabou por ser a sua desgraça. O não ter reforçado o plantel custou caro, principalmente a nível defensivo. Enquanto Daniel Ciofani e Federico Dionisi foram uma das duplas de avançados mais produtivas da Serie A, a defesa dos Canarini foi a pior do campeonato (76 golos sofridos). Sofreram goleadas humilhantes, por exemplo o 5-1 contra o Chievo, mas nunca desistirem de Roberto Stellone nem da sua ideia de jogo. O Frosinone foi para a guerra com armas de plástico. Não for por isso que deixou de dispara. A sua persistência no futebol directo, com dois pontas-de-lança, sempre à procura do golo, pode não ter dado a manutenção, mas merece o respeito de todos.
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HELLAS VERONA: Os Gialloblu terminaram a época 2014/15 em 13º lugar. Nada de extraordinário, mas foi uma temporada segura com a manutenção a ser garantida muito cedo. Até deu para Luca Toni ser o Capocannoniere aos 38 anos. Nada faria prever o que aconteceu a seguir. À sexta jornada, o Hellas caiu para o último lugar da classificação, de onde não saiu mais até ao fim do campeonato. 2015 acabou e o Hellas ainda não tinha qualquer vitória conquistada. A primeira só veio em Fevereiro no Derby della Lanterna. Já com o caminho traçado para a Serie B, os Gialloblu ainda deram um último ar de sua graça ao vencerem os eventuais campeões, a Juventus. A vitória em nada alterou a classificação da equipa, mas pelo menos serviu como uma honrosa despedida de Luca Toni aos relvados. O avançado pendurou as botas, mas vai continuar ligado ao clube, agora como director, e vai procurar devolvê-lo à Serie A o mais rapidamente possível.
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[next]O ONZE
GIANLUIGI BUFFON
Todas as palavras são poucas para falar de "Gigi" Buffon. Craque aos 38 anos, craque toda a vida. Nasceu para parar remates e é isso que continua a fazer. Capitaneou o campeão, foi crucial no momento de viragem e ainda arranjou tempo para dominar a liga estatisticamente. Buffon fez 3.94 defesas por cada golo sofrido, muito à frente do segundo classificado (Handanovic com 2.67). Para além de ser decisivo entre os postes, Buffon ajudou a sua equipa quando tinha a bola, sendo uma válvula de escape para defesas em apuros. Os seus 81% de passes completos só foram ultrapassados por Pepe Reina (82%). Ele é sem dúvida o melhor guarda-redes da Serie A, um dos melhores do Mundo e da história do futebol.
ELSEID HYSAJ
O albanês do Nápoles é o lateral direito mais completo a actuar na Serie A. Bruno Peres, Alessandro Florenzi e Sime Vrsaljko também se destacaram na posição, mas nenhum deles é o pacote completo que é Hysaj. Bruno Peres é um dribler, perfeito para o 3-5-2 do Torino. Florenzi e Vrsaljko são jogadores de técnica apurada, ideias para apoiar um meio-campo que goste de jogar em posse. Já Hysaj, apesar de ser o mais tecnicamente limitado do grupo, apresenta um pouco de tudo. É rápido, forte e determinado. Defensivamente, é um dos melhores laterais do futebol europeu. Este ano melhorou bastante ao nível do passe e revelou boa visão de jogo. Não é de ir à linha cruzar, mas tem olho para identificar as desmarcações em profundidade dos extremos e colocar lá a bola. Foi um dos jogadores que Sarri insistiu em trazer do Empoli e percebemos agora porquê.
LEONARDO BONUCCI
Bonucci não tem nenhuma das características físicas que atribuímos aos grandes centrais. Não é propriamente alto, não é propriamente forte, não é propriamente rápido. Lê o jogo dois segundos antes de toda a gente, o que lhe permite um posicionamento quase imaculado. Por esta altura, Bonucci é um central totalmente desenvolvido, tanto à vontade numa defesa a três como a quatro. Mas é no 3-5-2 que ele brilha. No meio dos outros dois centrais, Bonucci orquestra a primeira fase de construção que, graças à sua qualidade de passe longo, muitas vezes queima várias linhas do adversário. É ele agora o regista da Juventus, na ausência de Andrea Pirlo. Menção honrosa para Kostas Manolas, um defesa que dá gosto ver defender, mas não tão confortável com a bola nos pés como Bonucci.
FRANCESCO ACERBI
O exacto oposto de Bonucci, um homem montanha que usa o seu físico para dominar os adversários. Acerbi fez parte da quarta melhor defesa do campeonato, um registo incrível para uma equipa como o Sassuolo que, na sua época de estreia tinha sido a segunda pior defesa e no ano passado a quinta. Acerbi esteve intimamente ligado a essa melhoria. Depois de não singrar no Milan e de ter vencido o cancro em 2014, Acerbi regressou aos campos e tornou-se num líder de balneário para os Neroverdi. Como jogador, Acerbi junta duas qualidades que o tornam num defesa tão difícil de lidar. Sabe como defender na área e é uma carraça na marcação. Não tem velocidade, nem agilidade, por isso compensa com a sua agressividade na marcação, não deixando o adversário sequer levantar a cabeça do chão depois de receber a bola, mas sem cometer falta. É também um perigo nas bolas paradas, onde marcou 4 golos este ano. Kalidou Koulibaly foi a outra força da natureza a aterrorizar os avançados por essa Itália fora, mas Acerbi leva vantagem pelo que fez num clube de pequena dimensão.
ALEX SANDRO
Alex Sandro nunca foi um titular indiscutível na Juventus, alternando sempre com Patrice Evra. O lateral francês tem um peso no balneário que Alex Sandro não tem e provavelmente nunca terá, mas no campo foi superior ao seu colega de equipa em todos os aspectos e dominou a liga estatisticamente. Em organização ofensiva, não há outro lateral esquerdo na Serie A que possa oferecer tanto como ele. A sua velocidade e resistência permite-lhe fazer o corredor todo e até emendar alguns erros de posicionamento. No último terço, é perigoso no um-para-um e no cruzamento. Foi o lateral com mais key passes na Serie A (2.27 por jogo), a uma distância enorme de Marcos Alonso (1.5). Também liderou em golos e assistências por jogo. O lateral espanhol merece uma referência especial pelo papel que teve no sistema bastante fluido de Paulo Sousa. Quer como médio ala num 3-4-2-1, quer como defesa lateral num 4-4-2, Alonso nunca pareceu deslocado e maravilhou com o seu magnífico pé esquerdo.
JORGINHO
A posição de médio defensivo na Serie A está recheada de jogadores de qualidade, todos com uma interpretação diferente do seu papel em campo. Claudio Marchisio, Leandro Paredes, Francesco Magnanelli e Milan Badelj foram os expoentes máximos da posição esta temporada, com estilos muito diferentes, mas o melhor foi Jorginho. Depois de não ter maravilhado no 4-2-3-1 de Benitez, o médio italo-brasileiro encontrou a sua casa táctica no 4-3-3 de Sarri, relegando Mirko Valdifiori para o banco, o homem que Sarri tinha trazido do Empoli especificamente para desempenhar este papel. Jorginho é o jogador com mais passes completos por jogo nas Big 5 (102.6), a uma grandes distância do segundo. Isso acontece porque Jorginho está em constante movimento, sempre oferecendo uma linha de passe aos colegas. Quando recebe a bola, não se demora muito com ela. Joga simples e rápido para permitir que o jogo da equipa flua por ele. Mas essa simplicidade não afecta a sua objectividade. Jorginho é o médio com mais assistências para golo na Serie A.
MIRALEM PJANIC
Apesar da Roma se ter transformado, com um novo treinador e novas caras a partir do mercado de inverno, uma coisa permaneceu igual: a influência de Miralem Pjanic. Pelo segundo ano consecutivo, o bósnio terminou com dois dígitos em assistências (10 no ano passado, 12 no presente), mas dobrou o seu número de golos, passando de 5 para 10. Ele, Pogba e Insigne foram os únicos a passarem os dois dígitos em golos e assistências. A consistência, sempre apontada como um defeito no seu jogo, parece crescer cada vez mais com a idade. É nesta altura um dos melhores marcadores de livres do futebol europeu. Piotr Zielinski (Empoli) e Allan (Nápoles) tinham também lugar neste onze, não fosse a mestria do bósnio da Roma. A capacidade de pressão do brasileiro foi fundamental para fazer funcionar o meio-campo do Nápoles e o Polaco renasceu num novo papel, agora como médio mais recuado, sendo já pretendido pelos gigantes da Europa.
PAUL POGBA
Não foi o salto que todos esperavam, mas ainda assim a época de 2015/16 não deixa de ser uma de grande sucesso para o médio francês. Durante períodos largos da temporada, Pogba demonstrou um poder quase omnipotente, apagando qualquer vestígio do adversário. Noutros jogos, não se deu por ele. Devido à reconstrução que sofreu o miolo da Vecchia Signora, foi pedido mais a Pogba do que em qualquer outra altura da sua carreira. O francês foi médio defensivo, foi regista, foi box-to-box, foi trequartista. Foi aquilo que a equipa precisou dele a cada jogo. A sua ligação táctica e técnica com Paulo Dybala, e numa fase posterior na época com Alex Sandro, foram elementos fundamentais para a recuperação histórica dos Bianconeri. Marek Hamsik foi único que se chegou perto do francês. Mais recuado, sem jogar tanto de costas para a baliza, o eslovaco pôde jogar o seu jogo de penetrações, com e sem bola, terminando com 6 golos, 11 assistência e 94 key passes.
LORENZO INSIGNE
Pequeno Superhomem de Nápoles foi crucial na boa campanha do Partenopei. Fez parte de uma asa esquerda demolidora, com Ghoulam e Hamsik. Perdeu um pouco de gás nas últimas jornadas, mas ainda assim registou máximos de carreira em golos e assistências (12 golos e 10 assistências). O baixo centro de gravidade permite-lhe mudar de direcção numa questão de milissegundos, o que faz com que seja muito difícil de apanhar quando se apanha em velocidade. Começou com trequartista quando Sarri tentou aplicar o seu 4-3-1-2, mas a equipa ficava um pouco desequilibrada. Encontrou o seu lugar no lado esquerdo do tridente ofensivo do 4-3-3 e, com os seus movimentos interiores, acabou por conseguir explorar os mesmos espaço. Há coisas que pode melhorar, uma delas o excesso de tentativas de remates fora da área.
PAULO DYBALA
O mágico argentino entra para esta equipa, sem a menor das dúvidas. Dybala superou todas as expectativas, fazendo os adeptos Bianconeri esquecerem rapidamente Carlos Tévez. Aliás, a sua primeira época aos serviço da Juventus foi melhor do que a do Apache. Dybala resolveu um dilema táctico importante a Allegri. Foi ele que promoveu com mais intensidade e qualidade a ligação entre o meio-campo e o ataque. A sua capacidade de encontrar o espaço entre-linhas, de usar depois o seu drible para explorar esse espaço, destruiu defesas. Juntando a isso, a sua técnica perfeita de passe e remate deram-nos algumas das melhores assistências e golos da temporada. Aos 22 anos, só pode melhorar. Este sim, é o mini-Messi.
GONZALO HIGUAÍN
Não se pode deixar o Capocannoniere de fora desta lista, ainda mais um que quebrou um recorde com 66 anos. Gonzalo Higuaín tornou-se no jogador com mais golos numa temporada ao marcar 36 golos em 35 jogos, quebrando o recorde de Gunnar Nordahl. Terminou com uma vantagem de 17 golos para o segundo melhor marcador da liga. Higuaín beneficiou de uma equipa toda virada para o ataque, mas o argentino foi implacável na maioria dos jogos. Dava a ideia que podia marcar de qualquer sítio. Nenhum golo demonstrou isso tão bem como o do recorde. Higuaín chegou à última jornada a 2 golos de empatar o registo de Nordahl. Frente ao Frosinone, Higuaín marcou três, o seu primeiro e único hat-trick da temporada. Já a caminhar para o fim da partida, Mertens colocou uma bola na área. Higuaín parou com o peito, mas a bola fugiu um pouco do seu corpo. Ficou bem ao jeito do seu pé. Num remate acrobático, que poucos acharam possível, Higuaín marcou o melhor golo do campeonato e fez história ao mesmo tempo.
[next]O GOLO
AS DISTINÇÕES
Campeão: Juventus
Vencedor da Taça: Juventus
Liga dos Campeões: Nápoles e Roma
Liga Europa: Inter, Fiorentina e Sassuolo
Equipas despromovidas: Carpi, Frosinone e Hellas Verona
Equipas promovidas da Serie B: Cagliari, Crotone e Pescara
Equipa sensação: Empoli
Equipa desilusão: Milan
Melhor ataque: Roma (83 golos)
Pior ataque: Bolonha (33 golos)
Melhor defesa: Juventus (20 golos)
Pior defesa: Frosinone (76 golos)
Melhor marcador: Gonzalo Higuaín (Nápoles) - 36 golos
Melhor assistente: Paul Pogba (Juventus) e Miralem Pjanic (Roma) - 12 assistências
Melhor jogador para o PD: Leonardo Bonucci (Juventus)
Melhor jovem jogador para o PD: Gianluigi Donnarumma (Milan)
Revelação para o PD: Kalidou Koulibaly (Nápoles)
Desilusão para o PD: Felipe Anderson (Lazio)
Melhor treinador para o PD: Massimiliano Allegri (Juventus)
XI DO ANO